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A FACE DE RAHMAN

O céu de Dubai pulsava em néon. Lá no alto, no último andar do maior predio do mundo o Burj Khalifa, a cidade parecia um tabuleiro de vidro onde pecados eram jogados como dados.
Na cobertura privativa, decorada com mármore negro, espelhos sem moldura e taças de cristal em bandejas prateadas, Abdul Rahman mantinha o rosto impassível. Seu terno marrom-claro tinha o corte preciso de Istambul, o turbante impecável, e os olhos escondiam uma guerra silenciosa.

Na frente dele, o chefão do narcotráfico polonês, Szymon Krawczyk, abraçava com firmeza o homem careca ao seu lado.
Era o antigo braço direito.

— "Kończymy tutaj, mój przyjaciel..." (terminamos aqui, meu amigo)

murmurou em polonês, com um sorriso frio.

Mas então, o chefão desbloqueou seu celular.
Três toques.
Galeria.
Ali estavam as fotos.

O careca em um café de Marselha, depois num beco em Viena... com rostos conhecidos da Interpol.
O sorriso sumiu.
Sem hesitar, ainda abraçado, Szymon puxou a Glock prateada da cintura e a enfiou no abdômen do turco.

PAF.


Um único tiro surdo.
O homem caiu de joelhos, os olhos em choque, tentando entender.
Szymon falou em turco, com a legenda invisível que pairava no ar como fumaça:

— Até tu, Brutus...?!

Guarda a arma com um gesto calmo, como quem ajeita uma gravata. Pega uma maleta preta reforçada, gira nos calcanhares e se dirige a Abdul Rahman.

— "Tylko tobie mogę ufać..."
(Só em você posso confiar...)

O helicóptero preto aparece no horizonte, iluminando o terraço com sua lanterna cega.
Mas Szymon franze a testa.

— "Ale... to nie mój helikopter."
(Mas... esse não é meu helicóptero.)

Abdul Rahman sorri.
Lentamente leva as mãos ao rosto.
Começa a puxar...
Latex de altíssima fidelidade se descola.
As rugas sumindo.
A barba falsa caindo.
Os olhos mudando de expressão.
Oliver Alfandari encara o chefão com a frieza de um abismo.

E então, em hebraico:

-- Não... esse é o meu
— "לא... זה שלי

Ele aponta a Desert Eagle preta e cromada para o peito de Szymon e faz um gesto com a cabeça para a beirada, E pega a maleta com a outra mão.

— "בבקשה, שלב הבא." (Por favor, )

Szymon anda devagar, os sapatos fazendo barulho na laje. Chega à borda. A cidade gira sob ele como um espelho quebrado.
Oliver se aproxima e diz sua frase icônica em hebraico:

— descrição é a arma dos sabios

E então, um chute seco.
O corpo do chefão some no vazio.
Silêncio.

Enquanto despenca no abismo de vidro e luz, o eco da voz de Szymon corta o ar:

— “PRZEKLĘTY NIECH BĘDZIESZ, OLIVER ALFANDARI!!!
(Maldito seja, Oliver Alfandari!!!)

Silêncio.

Oliver guarda a pistola com um giro.
Aperta o botão no comunicador do colarinho.

— “Estou com os diagramas e mapas dos kartéis. Diga à Rakel que Malik foi vingado.”

O helicóptero pousa no terraço com as hélices rugindo como bestas.
Oliver sobe a bordo enquanto sirenas da polícia ecoam no andar de baixo, e dezenas de homens armados invadem a cobertura com gritos e lanternas.
Mas Oliver já sumiu nas alturas, como um espectro com um nome esquecido.

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