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CAPÍTULO 23 – O REINO DE CRISTAL – PARTE FINAL. (RASCUNHO)

Não estou errado; não foi um sonho nem alucinação; realmente vi com meus próprios olhos, todo o desastre, toda a destruição que caiu sobre minha cidade naquele dia, depois de termos lutando contra para que o mundo sobrevivesse um pouco mais, simplesmente não existia nenhum sinal de que uma batalha tão absurda houvesse de fato ocorrido, assim como não há em minha mente lembrança alguma depois do ataque derradeiro, exceto por um sonho muito estranho, ou seja, mais um a ser adicionado a minha lista: não havia noção de lugar, exceto que eu me encontrava deitado numa cama, mas que cama?
Eu não sei, apenas estava como que dormido, mas tudo era quente e cheio de cores vivas que dançavam a minha volta, de repente, a imagem se verteu para uma terrível ave que absorveu todas cores e se tornou vermelha; a ave cresceu rapidamente até atingir o tamanho de um cavalo, se tornou vermelha e assumiu características ofídicas.
– É você de novo, ave infernal, desta vez vou te matar! – gritei violentamente, mas não importava com quanta força eu tentasse me colocar de pés, não o pude fazê-lo; enquanto isso a ave se aproximava de mim milimetro a milimetro e tudo era escuridão, mas sé quando ela estava perto o bastante como que para ser possível sentir até sua respiração, é que o ser emitiu algum som e era algo apavorante, um meio termo entre um sibilar e um granas de qualquer ave de mal agouro; paredes surgiram a minha volta, estava num quarto muito estranho, mas não haviam cores vividas no lugar, todas era saturadas, como se misturadas ao cinza, como se a “magia” houvesse sumido do mundo para mim a partir deste sonho; a ave se aproximou mais ainda e de repente se encolhera, foi então que… está preparado para a parte realmente estranha agora?
Bem, então vamos lá: senti que havia uma outra ave dentro de mim, mas esta branca, cálida e pacifica, seu grasnado agradável vinha de dentro do meu peito e assustava a Ave Ofídica, e de repente, esta simplesmente emergiu de mim, como se saísse de meu coração, o ato me jogo num sono tão profundo que me senti como morto; a ave me parecia como um grande pomba branca, e esta, bateu asas e voou para longe de mim; da morte em que caí passei a vida, a vida material, então despertei deste sonho tão vivo quanto morto!
Acordei num quarto de hospital da cidade vizinha e me questionei se tudo fora um simples sonho, mas sequer pensei em Starwish ou na batalha que havia travado a alguns dias, não, o que pensava era no espírito branco que havia deixado me corpo físico levando consigo toda a vida das cores a minha volta. Tentei me levantar e uma dor aguda surgiu no meu ombro direito, e fora ela também o que me impediu de dar um grito, depois de alguns momentos respirando até que a dor se tornasse mais suportável, verifiquei sua origem e notei que haviam bandagens e curativos cobrindo parte de meu peito, senti também a umidade do sangue brotou a pouco com meu movimento brusco, corri os olhos pelo local e avistei sentada numa cadeira e debruçada sobre minha cama Lilian, que se encontrava dormindo mas que agora acordava com meus movimentos:
– V-Vaniel… Vaniel, você acordou… ohh, Vaniel que bom, graças aos céus…
Gritou ela e lançou-se sobre mim chorando e fazendo com que mais um pequeno banho de sangue surgisse de meu ombro, mas, mesmo assim, mesmo me machucando, ela não podia me soltar nem deixar de chorar. Finalmente Lilian se acalou, e olhando mais atentamente para seu rosto, pude ver que estava visivelmente cansada, parecia até mesmo encurvada por dormir debruçada ao meu lado e com frio, tinha seus cabelos rebeldes e sua maquiagem negra ao redor dos olhos estava borrada pelas lágrimas, por sorte, eramos os únicos naquele quarto, pois tamanha fora a reação da garota que teria acordado qualquer paciente convalescente que ali estivesse; então perguntei por meus familiares e quaisquer outros, mas ela me dissera que se não houvesse sido ela a passar aqueles três dias, NINGUÉM o teria feito, sem dúvida alguma, Lilian era muito mais minha família do que a real, uma verdadeira irmã, que em seguida, me fez uma pergunta que seria bem difícil de responder:
– Mas Vaniel afinal, o que foi que aconteceu com você, quem te machucou dessa forma?
– E-eu, não… – pensei por um momento antes de continuar dizendo – não me lembro de nada, o que foi que aconteceu?
FOI AQUELE SEU PRIMO – gritou ela – só pode ser, ele já tentou isso uma vez…
Então Lilian praguejou, xingou-o e chorou tanto quanto pôde; depois disso, insisti em perguntar o que aconteceu: parece que Sensei me encontrou caído em frente ao Dojo, quando eu estava indo para aula e chamou socorro, bem, pelo menos, esta era a versão oficial da história, então perguntei:
– Mais alguém se machucou, alguém debaixo dos escombros da batalha?
– O que? – perguntou ela – do que está falando?
– Hora, como assim? – perguntei – como não viu que a cidade está quase cortada ao meio?
A garota então colocou sua mão esquerda sobre a própria testa e a direita sobre a minha dizendo:
– Não aconteceu nada assim Vaniel, deve ter sonhado, acho que está até com febre.
Como poderia ser?
Não haviam sinais de batalha na cidade?
Será que houvera sido mesmo um sonho?
Só podia ser isto, minhas lembranças decompostas, sem noção de tempo indicavam isso, que tudo havia sido um simples sonho, de certo modo era até reconfortante pensar que não existe nada de sobrenatural no mundo, nada de inexplicável, nem de seres mais poderosos do que nós humanos, porém, Lilian me puxou de volta a realidade quando questionou:
– Vaniel, quem é Starwish?
– E Aquila, quem é essa garota que esteve chamando enquanto dormia?
– Quem é ela?
– Como a conheceu?
– E Sunwish?
– Foi algum deles, quem te deixou assim?
Seu olhar parecia muito impaciente e cheio de dúvidas, então lhe disse a verdade, a verdade que eu julgava ser a correta naquele momento:
– Bem… eles são apenas personagens do meu livro, acho que tenho pensado demais neles, não é a primeira vez que sonho com eles…
Lilian pareceu muito surpresa e mesmo sabendo que eu o escrevia a anos, ela disse:
– Uau, você está escrevendo um livro!?
– Por que nunca me mostrou nem disse nada?
– Quando voltarmos para a casa quero que me lê-lo, há alguma personagem baseada em mim?
Acho que não tínhamos mais nenhum outro assunto, afinal, Lilian e eu nos afastamos muito desde que Amanda aparecera e é por isso que conversamos tanto sobre o Mundo Acima das Estrelas naquele dia, conversamos até que o médico responsável por mim apareceu finalmente, tirou minha temperatura e fez algumas perguntas, inicialmente me perguntou sobre problemas psicológicos e remédios controlados, até Lilian o interromper com rispidez e falar sobre meu livro, obviamente ele também havia me ouvindo falar dormindo, mas ao ouvi-la, o médico apenas riu e saiu, mas não sem antes recomendar a minha acompanhante que tivesse cautela quanto a mim e que chamasse imediatamente por uma das enfermeiras a qualquer sinal de problemas, Lilian obviamente o desconversou por isso, mas ele insistiu:
– Não estou dizendo que, no início, ele não tenha começado com apenas um livro, mas pode ser que em algum momento isso tenha se tornado uma fuga da realidade, esse rapaz fugiu para um outro mundo melhor, em que pode vencer seus problemas, pode ser que ele tenha ferido a si mesmo em seus delírios de combates!
Lilian protestou novamente, mas nada tirou a desconfiança do olhar daquele homem, será que a sombra a minha volta, lançada por Starwish com a permissão de minha família ainda estava “ativa”?
Fiquei mais um dia e uma noite inteiros sem poder deixar o local, com ninguém além de Lilian ao meu lado, até que me fora permitido voltar para casa, e esta foi uma parte bem difícil, pois o hospital em que estive se encontrava na cidade vizinha, o que me deixou apenas com a garota para contar. Tivemos de caminhar cerca de três ou quatro quadras até chegar a rodoviária e no momento em que tropecei, parcialmente tonto pela ferida ou pelos medicamentos, ela me amparou, e fora ela também a pagar por nossa passagem e a segurar minha mão dentro do ônibus de lá até minha casa, onde não havia ninguém para me receber adequadamente, mas isso não me importa mais, o que vou dizer sobre minha chega?
Que não havia ninguém me esperando?
Quem eles sequer me perguntaram como passei?
Como cheguei em casa?
Não quero perder mais meu tempo escrevendo sobre eles, pois naquele momento eu ainda não os havia perdoado por seu passado e apenas os observava passando pelo corredor por detrás das caixas empoeiradas de meu “quarto”, não havia motivo algum para que nenhum de nós nos falássemos, mas o que eu diria a um deles, o que eu diria a minha tia?
A acusaria pelo passado questionável?
Repetiria as mesmas palavras que disse Lilian no hospital?
Eu não sei, mas agradeço por me odiarem tanto a ponto de sequer se aproximarem de mim, e de manterem minha avó igualmente distante, ocupada, ajudando-os com qualquer bobeira que pedisse, certamente de propósito, assim pude escrever meu Capítulo final de O Reino de Cristal em completa paz e quase tirá-los de minha vida pelos dias que me ignoraram; mas e é estranho pensar nisso, pois naquele época eu nem podia imaginar que ainda voltaria a aquele hospital por tanto tempo, muito menos que me poria a escrever um segundo livro durante minha estadia!
O ferimento e o cansaço ainda me incomodaram por alguns dias, na verdade, não tanto quanto o fato de estar novamente debaixo daquele teto, pensar em minha futura casa perdida com Amanda, somado ao fato dela ignorar minhas ligações, também não me ajudou em nada e não sei bem ao certo se foi porque eu não tinha nada melhor pra fazer, ou se foi pelo fato de que Lilian havia me exigido como pagamento por sua ajuda, ver meu livro, que este ficou pronto tão rapidamente.
Passei dois dias escrevendo no frio da noite, pois o tempo houvera mudado radicalmente, aliás, parece que quase tudo em minha vida estava esfriando rápido; então os apanhei e levei meus cadernos cheios até o túnel desabado do dragão e a chamei, logo ela surgiu por detrás dos escombros, vê-la me trouxe algumas lembranças da infância, pois estava vestida como naquela época, roupas escuras, uma saia escura e meia calça, assim como eu, vestia uma blusa devido ao frui repentino, mas que era leve o suficiente para destacar a silhueta de seu corpo muito bem e tinha seu cabelo dividido em duas marinhas chiquinhas com um laço de cada cor, mas me pareceu que seus cabelos estavam ainda mais escuros que o normal, de modo que me detive por um segundo os observando, tão escuros que até me lembraram as trevas da batalha contra Starwish, a lembrança apenas se agravou quando vi que usava sua costumeira sombra preta ao redor dos olhos:
– Não sei se conseguirei permanecer com ela por muito tempo se continuar a me despertar tantas lembranças boas e más!
Foi o que pensei, e até cogitei voltar para meu “retiro”, porém, meus olhos encontraram os seus por entre os destroços e o brilho que vi novamente me levou a nossa infância, quando me ela protegeu de meu primo, é estranho, mas tudo me pareceu como se fosse uma despedida e, de fato, era isso mesmo; a garota então me deu um abraço e fomos até a sala de sua casa:
– É estranho – falei – estivemos tantas vezes em minha casa jogando videogame quando criança, lembra-se?
– Mas acho que esta é primeira vez que venho até sua casa.
Pude ver seu rosto ficar levemente vermelho por detrás da maquiagem pesada, mas ela não disse nada, então eu continuei:
– A muito tempo nós três eramos inseparáveis, sinto falta daquele tempo, não eram os jogos que jogávamos, mas a companhia um do outro e a infância.
– Eu não sei – respondeu ela – acho que para seu amigo eram apenas os jogos.
– O que quer dizer? – perguntei, Lilian então respondeu:
– Entendo o que quis dizer quanto a nossa infância, mas veja só você, não o vejo me falando o tempo sobre videogames ou desenhos na TV, está até escrevendo um livro; enquanto que ele, a poucos dias insistiu em me convidar para sua casa, dizendo que havia conseguido um videogame antigo como aquele seu e que também tinha os mesmos jogos daquela época…
Então me lembrei:
— Você não entende, não quero jogar os mesmos jogos antigos de sempre, quero jogar os novos, se tiver que ver outra daquelas velharias na minha frente — e Batata gesticulou freneticamente com as mãos — juro que me mato, tenho péssimas recordações de tudo isso!
O silêncio caiu sobre nós dois, depois de algum tempo, a única coisa que pude fazer foi entregar a ela um caderno cheio de orelhas e de poeira e finamente, a garota falou:
– Vaniel, não precisava ficar acordado para terminar isto, você precisa dormir pra se recuperar. – disse ela.
– Não se preocupe Lilian – respondi – eu dormi um pouco também, mas quem conseguiria dormir debaixo daquele teto sabendo o que sabemos?
Ela ficou em silêncio por um instante, depois disse:
– Eu sei, te entendo, não tem sido fácil, mas, mesmo assim, estou vendo que está com um aspecto melhor, o ferimento não está mais incomodando?
– Não, está bem melhor do que estava quando acordei no hospital com você…
– Vi sua avó sair mais cedo com sua mãe. – disse ela.
– É, elas ficaram bem unidas depois da morte de meu avô – respondi – “é bom í aprendeno se virá sozim, ninguém vai fazê almoço pro cê hoje”, foi o que minh… minha… m-mãe, minha mãe falou antes de sair.
– Não se preocupe Snow – respondeu ela – eu sempre tive que me virar sozinha, minha mãe também nunca está em casa, embora não seja a mesma coisa não mesmo?
– Mas de todo modo, eu o convidei justamente quando não tem mais ninguém em casa, não acha que não teria nada preparado?
– Estou sempre pronta pra tudo!
Lilian então agarrou meu manuscrito e se sentou na mesa de vidro que havia após o sofá da sala, abriu-o delicadamente e começou a ler, mas, mesmo com meus avisos, ela não começou pelo início, mas sim pelo que havia escrito na noite anterior:


CAPÍTULO 9 – O PORTADOR DA TERRA.

A Terra, uma pequena porção de pó localizada no mundo material, no último degrau da Terceira Dimensão que se estende indefinidamente, formando a base da Piramide do Universo; aqui, dentro dos círculos do mundo, as pessoas creem que não existem dragões, nem espadas mágicas, nem Elites e nem portadores… assim eles pensam.
A luz de um Sol Eterno nos Céus Superiores brilharam através dos cristais do oceano, percorreram distâncias inimagináveis até colidirem com os olhos de um observador ignorante, um rapaz, de cabelos escuros e pele clara que acabara de se tornar um adulto, mas junto com a luz que viajou até ele, veio também uma missão, a tarefa a frente do rapaz era tão importante que definiria o momento do fim de nosso mundo, se este viria cedo demais, ou quando todos estivessem preparados, dependeria de seu desempenho. Não havia nada de especial nele, um jovem como qualquer outro a única exceção de sua maneira estranha de falar; por ter treinando desde infância, fazer da luta uma profissão passou-lhe pela cabeça; porém, mesmo vendo-o dedicar-se tão arduamente a aquilo, as pessoas a volta dele o puxaram de seu sonho para uma realidade miserável; vivia numa cidade grande, distante da pequena Ituverava e teria simplesmente rido-se ao ouvir um nome tão estranho como este, ou mesmo daquele a quem deveria guiar nos anos vindouros: Vaniel.
Longe da Terra e da vida comum daquele rapaz que contemplava as estrelas sem saber o que havia além delas, Sunwish e Aquila, dois dos Portadores sobreviventes a formação do Reino de Cristal acabavam de tomar ciência dos planos de Starwish, ele, o portador de Excalibur voltava seus olhos cobiçosos para baixo imaginando uma maneira de subjugar este mundo inferior e fazer cair as estrelas sobre a Terra.
– Precisamos detê-lo – disse Aquila no exato momento em que a visão de Kusanagi se encerrava – vamos, desta vez eu estou empunhando esta lâmina, sou muito mais poderosa que Nightwish, eu e você seremos capazes de derrot…
– Não sois tão poderosa quanto imagina – respondeu ele apertando o punho contra o cabo de sua própria arma – Excalibur acaba de restaurar teu pleno poder, assim como possuía quando era brandida pelo rei dos homens, ao passo que as nossas estão perdendo sua luz depois dos milênios após sua forjadura, não somos rivais para ele, nem que as três lâminas se reunissem em nossos punhos!
– Poderíamos fortalecê-las, assim como Starwish fez e assim enfrentá-lo; existem dragões imperfeitos e águias de fogo ainda vivos, podemos até tentar matar um dos ocultos, por que não forjamos novas lâminas Sunwish?
– NÃO, não existe tal possibilidade Aquila, é certo que também a antiga alquimia fora perdida, nossos alquimistas desceram ao mundo inferior e não podeis recuperá-los – disse Sunwish – Excalibur abriga dentro de si um ser vivo, que pensa, que alimenta-se e fortalece a si mesmo, foi assim que ela pôde retornar a tua plena potência, através do sacrifício de nosso Mundo.
– Não seria possível imitá-la com nossas espadas, pois estas não estão realmente vivas em primeiro lugar, apenas carregam a luz de uma vida tomada precocemente, que embora poderosas, se esvaem com o tempo.
– Então o que faremos? – perguntou Aquila – deixaremos que outro Reino de Cristal surja e consuma a vida de bilhões de pessoas?
Swunwish respondeu:
– A Fênix não pertence a este Mundo desde o início, meus sonhos me fizeram pensar que talvez devêssemos parar de tentar procurar a saída aqui e nos dirigirmos reinos exteriores… não sei o que me faz me inclinar a este pensamento, quem sabe seja o Criador que fala comigo.
– Acha que Ele realmente fala conosco Sunwish, seres como governados pela guerra e aliados as Trevas?
– Ele fala com quem quiser! – respondeu o rapaz, e Aquila então lhe falou:
– Isso não importa, se não fosse por ti nem eu nem Nightwish estaríamos aqui, acho VOCÊ é quem merece toda minha confiança, então me diga, como procederemos daqui?
Através, da visão da própria Excalibur redirecionada por Kusanagi, Sunwish houvera tomado consciência de Vaniel, porém, não existia vinculo algum entre eles, então os Portadores buscaram por alguém que fosse semelhante a ele, que tivesse também em si o Dom do Criador e fora Sunwish quem o encontrou, ao passo que a garota ruiva questionou:
– Mas como faremos contato com ele se este Mundo permanece selado?
– Não poderemos deixá-lo sem sermos consumidos pelas Leis da Criação.
– Estais certa Aquila, não poderemos descer em pessoa, porém, a mesma “Voz” me diz que não haverá objeção a atirarmos um objeto sem vida na Terra!
– Mas – questionou ela – Suas leis…
– Exatamente Aquila, leis Dele, isso é o que se chama de quebra de paradigmas!
A luz do Sol Eterno, amplificada pelas estrelas levou consigo a visão aguçada dos portadores, Sunwish houvera encontrado uma forma de guiar Vaniel a se preparar para o que viria, antes porém, precisariam pôr o suposto guia, a par dos acontecimentos e mostrar-lhe onde encontraria o tal garoto que poderia condenar o mundo, se fosse alcançado por Excalibur.
– Enviaremos minha espada para este humano – disse ele – depois usareis o elo entre ela e Kusanagi para nos comunicarmos, desta forma guiaremos a resistência do mundo.
Se afastando da costa do Oeste, os dois se dirigiram com poucos passos a um outro canto do mundo, na localidade física que ficava exatamente acima do mesmo ponto onde vivia aquele humano; a beira de um lago infindável, margeado por árvores negras e uma montanha de cristal que brilhava como uma estrela, eles se admiraram ao perceber que o local seria tão perto de onde viviam. Aquila então retirou Kusanagi de sua bainha, preparou sua base sobre um rochedo de cor rubra que brilhava friamente, fixou-se em postura de combate e nuvens negras imediatamente cobriram o céu, ao longe sobre toda a superfície do lago cristalino, incontáveis círculos se formaram com a chuva, como em todas as vezes que a lâmina era acordada, ela chorou por seu destino. Ondas surgiram e se precipitaram sobre as margens quando, como um raio que saia das nuvens, Aquila golpeou desde o rochedo, por entre as águas até o fundo do lago com extrema violência; após embainhar sua espada novamente e a superfície da água se acalmar, havia um enorme cratera visível mesmo da superfície.
– Excelente como sempre Aquila – disse Suwnish – não consigo ver o fundo por meus próprios olhos, é uma pena que este mundo tenha chegado a um fim prematuro, terias sido uma excelente portadora, alguém digna de receber minha lâmina, teu poder seria ainda maior se tivesse um título.
A garota sorriu tão intensamente que seu olhar, antes cheio de maldade, desapareceu, exibindo apenas a doçura que só as mulheres têm:
– Mesmo não sendo Excalibur, Kusanagi também tem um alcance enorme em seus golpes, tenho certeza de que perfurou por milhares de quilômetros no solo abaixo do lago, não haverá resistência alguma para sua espada, mesmo que saá do alcance de seu controle, mas não entendo, por que não lançar Kusanagi?
– Seria até melhor para nós não acha?
– Kusanagi não é tua – respondeu ele – não podeis controlá-la sem a permissão de tua Portadora, a própria espada se recusaria a ir!
– Não te preocupes ficar desarmada diante de Nightwish, sinto que ela está realmente arrependida, a prova disto é que ela permitira-se se afastar de sua lâmina sem hesitar quando pedi.
– Mas Sunwish – retrucou ela – o título, ela não o passou para mim, ainda é a mestra de Kusanagi e poderia usá-la contra nós a qualquer momento…
– Sinto que não é para este fim que ela ainda a conserva, Aquila… além disso há duas razões para que seja a minha e não Kusanagi a viajar até lá: em primeiro lugar, a extensão de corte que a espada do Norte dispõe, é perigosa demais para um garoto, o segundo motivo é a perda do tempo, isto certamente fará com que tua espada chegue ao destino anos depois do momento em que estamos vendo-o, o que faríamos se ele se mudasse, ou se ela caísse sobre alguém?
– Lembra-te de como minha espada é chamada?
– A Única; e isto não é sem razão, pois posso direcioná-la de forma com que não sofra com a perda de tempo!
Aquila consentiu e se afastou, sentiu porém, o pesar de que fosse ele a perder sua lâmina em vez dela pois não lhe agradava cometer qualquer ato, por mais insignificante que fosse, que viesse a prejudicar aquele que estava a sua frente.
Sunwish se aproximou da beira do lago e olhou o abismo que estava submerso, com um movimento rápido sacou a espada de sua cintura, esta era ligeiramente menor que Kusanagi, levemente curva e bifurcada, seu guarda-mão também era bem diferente do que estamos acostumados a ver, cobrindo toda a extensão do punho numa suave curva de metal que brilhava de forma austera e superior à da lâmina que corta a serpente. Com um breve giro, a lâmina foi erguida ao ar conservando seu gume voltado para baixo, em direção ao lago; seu portador então hesitou e encarou firmemente a face do abismo, depois subiu os olhos até a lâmina magnífica, e mesmo que só por um instante, pesou-lhe no coração a iminente separação de tão formidável arma, afinal, ela era única, sem igual, sem precedente, porém quando desviou seus olhos de volta para a cratera subaquática, Sunwsish pôde ver um brilho que se esvaia rapidamente emanando do reflexo de sua espada e desta forma, compreendeu que até mesmo o mundo a sua volta, ansiava que Excalibur fosse detida. Como uma lança ela mergulhou, cortou pela água e desceu a escuridão do abismo, guiada por Sunwish apenas para atravessar aguá e terra, como também céu e tempo; a espada viajou por toda a distância do abismo e penetrou a terra úmida, cortando pelos quilômetros finais que Kusanagi não havia conseguido perfurar deixando um grande túnel atrás de si que ligara o lago do mundo que viera ao Oceano Celeste de nosso mundo, por onde Vaniel transitaria após a morte nas mãos de Starwish depois; cruzando o mar ela passou pelas estrelas, deixado um rastro com a poeira da terra perfurada anteriormente e este brilhou como se estivesse em chamas com a luz das estrelas, e quanto ela perfurou a atmosfera, realmente se incendiou e se transformou numa estrela cadente. Muitos olhos testemunharam sua entrada e fizeram pedidos dos mais variados tipo, alguns egoístas, outros pedindo nada menos que a paz no futuro da Terra, exatamente o que esta estrela trazia consigo.
A longa viagem porém, destruiu todo o seu guarda-mão, cabo e quaisquer outros ornamentos que houvessem nela, restando apenas uma lâmina baça e desgastada, que como medida de um destino imutável, viria a ser encontrada, remodelada e polida pelo seu novo portador.
Depois da leitura, deste Capítulo ela me fez algumas perguntas e nós passaríamos o dia todo apenas assim, lendo falando sobre tudo o que eu havia escrito naquele tempo:
– Me parece que finalmente encontrou aquela espada Vaniel – disse ela – lembra-se?
– “La encontrarão a espada do rei, apenas ela tem o poder para matar um dragão!”
– Já faz muito tempo – respondi – parece que foi num outro mundo que corremos de um dragão por aqueles tuneis escuros em busca de uma espada mágica…
– Mas é simplesmente incrível – disse ela – sua criatividade é incrível; é sério achei tudo muito… surreal, é, essa é a palavra certa!
– O-obrigado Lilian… eu acho.
– Não estou brincando Vaniel, é sério, sequer entendo como alguém pode inventar tanta coisa assim, tem certeza que não está usando nada?
– Quem sabe tomou remédios demais no hospital.
Fiquei simplesmente sem palavras para respondê-la, mas ela, aparentemente jamais as perdia:
– Você realmente não mentiu, quando disse que escreve seu livro baseado nos sonhos que têm, me parece que tudo é uma continuação de quando aquele dragão te perseguiu quando eramos pequenos, mas, os acontecimentos finais, foi com isso que sonhou no hospital?
– Percebi que são os mesmos nomes e que este rapaz que recebeu uma espada era você certo?
– B-bem… – gaguejei, mas antes que pudesse corrigi-la, Lilian falou com uma empolgação incrível:
– Por que não publica essa estória fantástica?
– Poderia ganhar algum dinheiro.
Realmente seria ótimo se isso tivesse acontecido naquela época, dessa forma eu poderia ter saído da casa deles de uma maneira mais apropriada. Mas antes de ler o próximo Capítulo, Lilian se virou para mim mexendo nos cabelos presos e olhando para outro lado, levou alguns segundos para que ele finalmente perguntasse:
– Você e Amanda terminaram recentemente certo?
– Mas sei que, mesmo assim, você deve estar pensando em sair de casa não está?
– Está pensando em ir… sozinho?
Ela percebeu a leve expressão de surpresa em meu rosto, mas sinceramente, seu interesse não era algo inesperado, apenas a forma com que ela dissera o foi; um sorriso sem graça surgiu em mim, e este, foi retribuído imediatamente, Lilian então se aproximou graciosamente de mim, mas vacilei e desviei o olhar para longe dela, de modo que a garota se afastou receosa e exclamou:
– Aquela garota, ela nem mesmo foi te ver no hospital!
– E não foi por falta de aviso, na verdade, não a suporto, mas eu mesma a avisei do que aconteceu, DEVERIA ESQUECÊ-LA IMEDIATAMENTE E SE TORNAR… S-SE… se tonar…
E abaixando o tom de voz, ela disse quase chorando:
– Se tornar meu Cavaleiro Branco, assim com quando eramos crianças!
Mas não importou com quanta força eu a tenha abraçado, meu silêncio destruiu o clima que havia se formado anteriormente entre nós, mas o que poderia fazer naquele momento tão confuso de minha vida?
Ficamos sentados um ao lado do outro em silêncio por algum tempo, até que ela perguntou:
– Sua família tem te tratado bem Vaniel?
– Você também os conhece – respondi – sempre espero o pior deles, quando saí para vir pra cá, com meu caderno na mão, os olhares de todos estavam muito estranhos, com ar de deboche e desprezo, não sei dizer se havia uma sombra em seus olhos ou se apenas estavam debochando de mim, sabe, como faziam as crianças de antigamente quando alguém arranjava uma namorad…


– Vaniel pare de falar por um instante… ela já sabe que estamos juntos!

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