Pular para o conteúdo principal

CAPÍTULO 20 – MITOS DE UM OUTRO MUNDO. (RASCUNHO)

É muito estranho, jamais conheci a verdadeira face de meus pais e talvez por isso é que não sinta falta deles, pra mim, é como se não tivesse existido, pois sempre foi assim, então não sei o que pensar, o que sentir sobre isso, mas, seja como for, escrever sobre eles me pesa no coração tanto quanto a realidade, foi apenas a noite, quando me deitei para dormir que acabei remoendo as lembranças em minha mente e por alguns dias me recusei a deixar meu quarto, abatido pelo peso das visões, antes porém, logo após a chuva ter cessado, Sunwish me disse:
– Levanta-te Vaniel, não tens tempo a perder sofrendo, precisa te preparar para descer a Terra e enfrentar Starwish.
– Por que eu deveria mover um dedo para salvar aquele mundo? – questionei.
– Todo o mundo é tão sujo como minha própria família, apenas se preocupam em destruir um ao outro e em se satisfazer, Starwish está certo em consumir a Terra!
– Se vais agir como uma criança – disse Sunwish – e não te importas com o que acontece as pessoas a tua volta, não há sentido em perder meu tempo contigo.
– Continue chorando e aceite a cobrança que virá sobre ti por teres feito perecer o mundo!
Sunwish então se foi do Circulo deixando Aquila e eu, ela por sua vez permitiu-me ficar sozinho a sombra das Árvores Negras até que eu me acalmasse.
– Aquila, se quiser pode voltar para casa, eu gostaria de ficar aqui mais um pouco e pensar sobre algumas coisas…
Ela me olhou profundamente e disse:
– Se realmente quer andar sozinho neste mundo, deveria permitir que Sunwish lhe ensino o que precisa, mesmo que não tenha a intenção de retornar a Terra, pois não é seguro andar por aí sem saber se defender.
– Não se preocupe, não sou tão indefeso quanto pareço, tive muitos anos de treino de Artes Marciais!
Aquila respondeu:
– Não seja tolo Snow, não conseguiria levantar a mão contra ninguém daqui, além do mais, neste mundo não há leis divinas que o proteja de ataques sobrenaturais como no momento atual de seu mundo, não duraria nem cinco minutos sem um de nós em tua presença!
Nem bem as palavras haviam acabado de sair da boca da guerreira ruiva e a visão de Aquila desapareceu de minha frente e deu lugar a imagem daquele alto céu claro e da copa das árvores que se movimentavam rapidamente, completando a mudança, por um momento o vento rugiu em meus ouvidos quando cai de costas na grama; a dor consumindo meu abdômen, sei que fui atingido de alguma maneira por Aquila e em seguida atirado ao ar a uma distância razoável, demorei algum tempo para recuperar a força e só então me sentar na grama, depois que o fiz encarei a expressão de maldosa satisfação que estava no rosto dela enquanto dizia:
– Não conseguiria se defender sequer de uma criança deste mundo Snow!
Se Aquila que era tão legal comigo me golpeara daquela maneira tão indescritível, o que poderia fazer Nightwish com todo o ódio que sentia por mim se os outros não estivessem ali para me defender?
– Não fiques prostrado aí Snow, revide, de que servira teus longos e árduos anos de treino se não podes se defender de uma garota?
Disse a voz de Sunwish as minhas costas, ele estava ali, de pés encostado em uma árvore e me observava, ao vê-lo rapidamente retruquei:
– Não existe paz por aqui?
– Vocês deste mundo estão sempre tentando fazer guerras e armar combates.
Mas depois de ver o que a vi fazer, ao menos concordei com o treino que me propunham, me pus de pé e seguindo a deixa, me pus em guarda, me preparando para um combate, assim como fiz por tantas e tantas no Dojo, mas hesitei por um instante, quando percebi que Aquila era “imensamente maior do eu”, mas, mesmo assim, ataquei com toda a raiva que o momento me proporcionou, porém, não importavam os golpes, socos, chutes, voadoras, eles apenas passavam no vazio e eu não me atrevia a tentar jogá-la ao chão ou entrar em chaves, isto é, se por algum milagre conseguisse me aproximar o bastante. Aquila era muito rápida e, com certeza, zombava de mim, pois permanecia com os braços cruzados e com um enorme sorriso na cara enquanto se movia; mas desta vez algo foi diferente, pois em momento algum ela desaparecera da minha vista como fizera anteriormente, eu não saberia dizer o porque!
– Ótimo Snow – disse Sunwish – porém, não tentes superá-la fisicamente, ainda que estejais mais forte e rápido neste mundo, esta a sua frente ainda é uma das Elites mais poderosas de nossa era.
– E ainda que o próprio Starwish também tenha sofrido com tal mudança, ele ainda é um dos portadores, o que faz com que a diferença que há entre vós permaneça ainda maior que entre ti e Aquila, se lutares desta maneira jamais será possível derrotá-lo!
– Se queres ter chance contra Starwish, existem outros meios, façamos uma pausa, acalma-te e escuta.
Só agora eu percebia o quanto o dia estava quente, o Sol Eterno era cruel sobre nossas cabeças, mas em oposição a ele, as árvores negras produziam uma sombra tão densa e fria, que eram como um enorme ar-condicionado a nossa volta, de modo que era até difícil acreditar que havia uma disparidade tão grande de temperatura a sombra e fora dela, e sentados a a sombra, Sunwish disse:
– Neste Mundo, separar corpo e Alma é muito mais fácil que no teu e é também, algo totalmente impossível para um portador como Starwish devido a ligação feita entre a luz da espada e a luz da própria Alma, isto impossibilita completamente a separação, então não precisarás te preocupar que teu inimigo faça o mesmo; esta, será tua maior vantagem!
– Esta separação de que falo, também é muito mais visível aqui. O ser humano terreno é “uno”, porém formado por três elementos separados, este deverá ser o caminho a seguir, separá-los a fim de removeres a limitação que lhe é imposta pelo corpo físico.
O que dissera soou muito familiar:
– Corpo e Alma e Espírito – falei – acho que sei do que está falando, alguém já havia me ensinado sobre isso.
Aquila riu-se e disse:
– Parece que afinal, você não é tão lento quanto aparenta Snow.
E Sunwish perguntou:
– Ainda te lembras do assunto?
Novamente percebo que minha vida não foi nada além de uma preparação para o que viria, Alguém me entregava todas as ferramentes que ainda seriam necessárias, pois me lembrei daquela aula, em que Sensei me dissera:
– Somos formado de Corpo, Alma e Espírito. Nesse sentido, (apenas paras fins didáticos) entenda espírito como sendo sua mente, ela é aquilo que liga seu corpo e sua alma. É por meio da mente, que a alma enxerga o mundo através de duas pequenas janelas de seu veículo chamadas olhos.
– A maioria das pessoas jamais se dará conta, mas frequentemente dentro dos sonhos, podemos experimentar a sensação de se estar tranquilamente deitado dormindo e ao mesmo tempo ter consciência de um outro você, geralmente um pouco acima do primeiro, poderíamos chamar isso de “Projeção Astral Involuntária”?
– A alma de todos em algum momento durante o sonho acaba deixando o corpo, mas permanecendo ainda ligada pelo Cordão de Prata, porém, ter consciência disso é tanto raro quanto frequentemente ignorado ou esquecido.
– “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias…”

Eclesiastes 12:6 – “Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço.”

Patrício também estava presente naquele dia, mas sempre fora tão cético que não deu atenção ao que era dito, preferindo se dirigir ao saco de pancadas e golpeá-lo sozinho de modo a tentar abafar o som da conversa com o barulho das pancadas, mas Sensei, sem dar atenção continuou:
– A essência de nossa existência, ou seja, a Alma, é maior, mais “abrangente” que nosso corpo físico, este é apenas um limitador temporário; a visão de nossas se estende em todas as direções sem depender dos olhos, seus sentidos vão além dos cinco do corpo; e contrariando algumas ideias, nossa alma não é desprovida de forma física, mas sim, arremete a um corpo etéreo perfeito, algo poderoso herdado de Deus e que jamais sofreu com as provas do mundo.
– Durante a história humana que é constantemente reiniciada ao bel prazer do inimigo, muitas doutrinas e religiões inteiras se basearam nesta Centelha da Alma (que possuí até “aparência de grandeza”) para tentar explicar o universo e buscaram dominar certos dons pertinentes a ela.
– Os homens (por vários motivos, entre eles a simples e despretensiosa ignorância) deixaram de associar tais capacidades a Deus, preferindo pensar que o poder é unicamente humano e não Divino, assim se distorceu o fato dos homens serem deuses ou associando-os ao inimigo.

BRANHAM, William Marriom – Mensagem: O Som Incerto – Parágrafo 32: “O homem no princípio, quando foi criado, o homem é um deus. Ele é absolutamente um deus. Porque ele foi feito a imagem de Deus, sendo um filho de Deus, sendo um filho de Deus.”

João 10: 32 - “Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?”
João 10: 33 - “Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.”
João 10: 34 - “Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?”
João 10: 35 - “Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada,”
João 10: 36 - “Aquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?”

– Dispensa-se Deus de Seu posto e Suas leis são deturpadas!
Sunwish então se dirigiu até uma das árvores e se pôs de pé ali, a frente dela, onde ficou por alguns minutos e sem dar explicação alguma do que fazia; o vento soprou forte e gelado, subitamente uma miragem surgiu, sem dúvida meus olhos me enganavam!
Havia um braço saindo do próprio braço direito de Sunwish, era simplesmente um terceiro pra ser mais exato, mas diferente dos outros, sua figura se esvaía no ar, era quase transparente, etérea e reluzente; também não trajava a mesma armadura pesada que o braço real de Sunwish; após mais alguns segundos de puro espanto e expectativa em que esfreguei os olhos compulsivamente, Sunwish simplesmente “saltou para fora de si mesmo”, era como se houvessem duas pessoas idênticas ligadas, mas uma vestia agora roupas leves e maleáveis, sua imagem era difusa, transparente, totalmente diferente do corpo real do rapaz que usava negro e era totalmente sólido; ambos permaneciam ainda ligados por um mesmo braço; então aquele outro Sunwish que desaparecia brevemente e reluzia a cada piscada, se inclinou em direção a grande Árvore Negra e pareceu se preparar por um instante tensionando os músculos de seu espírito, então desferiu um golpe, um simples soco sem nada de especial (se é que aquilo era comum), o golpe atingiu o tronco da árvore, tamanho foi o barulho e um vento arrebatador foi impulsionado; a árvore rachou de um lado ao outro e até o topo, num instante ela se dividiu em duas partes e tombou para dentro da floresta levantando uma nuvem de poeira e arremessando fragmentos de cristais em todas as direções; em seguida a imagem etérea de Sunwish desapareceu retornando para dentro de si mesmo.
Surpreza?
Descrença?
Isso não existia mais, a essa altura já havia aceitado a verdade da sobrenaturalidade, então ele se aproximou de nós e falou:
– Aquele “outro eu” que vira instantes atrás, não era outra coisa senão minha própria alma, meu espírito, ou ainda, corpo etéreo, chame como mais lhe aprouver; para um espírito a matéria é insignificante, nada nos mundos materiais resiste a ele, nem mesmo uma das quatro lâminas ancestrais!
– Certamente fazer isso exige muito de nós, além de anos de treino, um treino que tu já tiveste em teoria, somado a tua a tua “indistinção” entre corpo e alma que agora é semelhante a nossa, se quiseres salvar teu mundo terá de alisar este feito em poucos dias!
Após dizer, novamente Sunwish pareceu muito cansado de uma hora para outra, sua respiração se tornou densa e pesada, eu o vi lutando para manter a consciência e cair sobre o próprio peso, a tal pode que teve de ser amparado por Aquila.
– N-não, não te preocupes Vaniel, apenas necessito descanar por algum tempo, veja, Nightwish está vindo para me ajudar.
– Aquila, permaneça ao lado do garoto e o ajude no que for preciso.
– Não estou certo de quantos dias serão necessários, porém a partir de hoje, teu objeto será reproduzires o que acabei de fazer.
Levou ainda mais alguns instantes para que ele se recuperasse e conseguisse caminhar de volta para casa com ajuda da garota Loura que houvera aparecido, me deixando na companhia da ruiva com uma grande, senão, impossível tarefa pela frente, algo que eu não tinha ideia alguma de como começar!
Levaria mais de uma semana (daquele mundo) antes que eu visse Sunwsish novamente; com certeza, o golpe o desgastara grandemente e durante este tempo, Aquila permaneceu ao meu lado, mas ela não poderia me ajudar a cumprir a tarefa, eu deveria realizá-la totalmente sozinho:
– É impossível para mim – disse Aquila – acho que nunca tive aptidão para este tipo de coisa, tampouco poderia fazê-lo enquanto conservar Kusanagi em minhas mãos, sinto muito mas não posso lhe dar muita ajuda, terá de descobrir sozinho como fazer ou esperar que Sunwish se recupere.
– Eu entendo, mas tenho de perguntar: devo esperar ficar tão fraco da mesma maneira que ele se conseguir usá-la?
– Não – respondeu ela com tristeza no olhar – o caso de Suwnwish é especial, ele se desgasta tanto assim, devido ao fato de ter usado aquela técnica justamente para descer ao seu mundo, se lembra de tê-lo visto lá certo?
Acenei com a cabeça.
– Não é de se admirar que ainda esteja tão fraco, depois de ter deixado nossa tribulação por duas vezes sem se consumir; mas não deve se preocupar com este efeito colateral enquanto a existência sua e de Starwish não tenha sido devidamente selada em ambos os mundos.
– Me desculpe garoto, devo tanto a Sunwish e gostaria de retribuí-lo lhe ajudando, pois ele quer te ajudar, mas sei que tem algumas dúvidas que não poderei responder, nem mesmo ele, devido a seu estado, mas, ao menos, fico feliz em ver que está mais disposto a levar teu treino a sério, com isso pode salvar seu mundo e aqueles ao seu redor.
– Ainda não sei se realmente me importo com aquelas pessoas depois do que fizeram – respondi – mas gostaria muito de aprender a fazer aquilo, seria muito bom ter aquela técnica em meu mundo!
Aquila sorriu com malícia outra vez, como se soubesse de algo que eu não sabia, mas não percebi nada naquele momento, tudo o que fiz foi continuar a tentar e tentar reproduzir o golpe de Sunwish sem saber como no Circulo da Mudança, então no oitavo dia, pela manhã Sunwish finalmente reapareceu; estava sentado a mesa para o café da manhã, mas visivelmente não estava totalmente recuperado, portanto não me acompanhou, apenas me deu um conselho:
– Esvazie tua mente, porém, não te prendas a isto, não se trata de ter a mente vazia, sim de preenchê-la com tua concentração; não se trata de ouvir o que há fora de ti, porém, de perceber cada um dos três elementos que formam tua existência, é este o primeiro passo!
– Depois de definir o limite entre corpo, mente e alma, terás de tirar a mente do controle de ti mesmo, para só então entregá-lo ao teu “eu maior”.
– O passo final será revelá-lo a realidade material, transcendendo teu próprio corpo!
– Porém, lembra-te de uma coisa Vaniel: quando conseguires trazer tua alma a realidade, não deves desvinculá-la completamente de seu corpo físico, tal como eu mesmo o fiz naquele dia.
– Por quê – quis saber – o que pode acontecer se eu fizer isso?
Foi com um sorriso que Sunwish respondeu:
– Nada de relevante na verdade!
– Isto é, se não te encontrares num combate real; se tua alma se afastar demais do corpo, este apenas cairá como se estivesse dormindo, em seguida bastará retornares a ele para despertar, porém, se estiveres num combate, te tornarás num alvo fácil, pois o despertar é lento e desorientado, é como acordar de um terrível pesadelo, o que significaria tua morte!
– Deves conservar um ponto de contato entre alma e corpo, para retornar ao controle instantaneamente sem perda de percepção se for necessário.
Durante muitos e muitos dias tentei de todas as formas que pude, alcançar a tal técnica, através da concentração, meditação, tentativas físicas e tudo quanto pudesse tentar, mas finalmente fui vencido pelo desanimo e negligenciei meu treino.
– Quem sabe eu consiga fazer isso durante o sono, como uma projeção astral…
– Faça uma pausa Vaniel – se nãos tm vontade de treinar, o treino não será produtivo, vamos acabar por hoje, mas por que desperdiçar seu tempo num mundo estranho dormindo?
– Venha, vamos até o Prédio Branco dar uma olhada em alguns dos textos que Sunwish traduzia quando estava no exército, antes de se tornar um Portador.
Aquila apanhou a espada que havia sido tirada de seu cinto e repousava tranquilamente ao seu lado, então a afivelou novamente no devido lugar e me convidou a segui-la; nos dirigimos até o local conversando durante a caminhada e desta vez ela me permitiu entrar no prédio: atrás da porta de entrada havia uma espécie de recepção, semelhante a qualquer prédio comum, com a exceção de que todas as paredes, chão e teto eram formados por enormes pedras antigas e poeira; o curioso é que não haviam teias de aranha no local:
– Só agora me dei conta disso Aquila, não existem insetos, nem aranhas neste mundo?
Ela respondeu:
– Insetos, vermes e seres rastejantes, na verdade, vêm das dimensões inferiores da criação, as aranhas em especial, apenas “se copiam de mundo em mundo”, portanto, a criação do Mundo Acima das Estrelas não se deu como cópia de nenhum outro!
Continuamos caminhando pelos corredores e conversando até chegar nas escadas, onde cada degrau alternava entre branco e preto, houvesse a necessidade disso para que aqueles que os usassem não pisassem em falso devido à ambiguidade de tudo. Subimos até o terceiro andar, onde, além de muito mais poeira do que no primeiro e segundo andar, também havia iluminação elétrica, embora não a tenha visto ligá-la em momento algum, quem sabe se ascendessem de acordo com o lugar em que os visitantes se dirigiam. Depois de um longo corredor com enormes portas de metal brilhante em ambos os lados, como se protegessem algum conteúdo valioso atrás de si, chegamos a uma grande porta de madeira que se encontrava entreaberta, o uso do material menos resistente era um sinal de que não se valorizava tanto o que lá estava quanto os conteúdos anteriores; sobre a porta de madeira, em letras tão estranhas quanto os hierógrafos egípcios, se podia ler os dizeres: O Conhecimento se deita com a Morte. Do lado de dentro estavam centenas de estantes de madeira clara, totalmente diferente da madeira negra com a qual se houvera “remendado” o Mundo Acima das Estrela, esta era lisa e suave, certamente não pertencia as árvores do Sul, quem sabe viesse do norte, pois seu toque era tão frio como gelo. Nas prateleiras havia grandes livros coloridos, escritos em muitos idiomas diferentes que não fui capaz de ler, haviam também desenhos que lembravam algum tipo de magia ou de tecnologia tão semelhante e tão diferente da nossa ao mesmo tempo; vendo que nada poderia ser entendido por mim daquela forma, Aquila me mostrou alguns dos quais Sunwish traduzira: Os Pergaminhos de Merlim; As Maquinas de Aurora; Terra Abandonada; estes eram seus títulos, e finalmente, aquele que capturou minha atenção imediatamente entre todos: Anatomia dos Dragões!
Aquila porém, disse:
– Me desculpe garoto, apesar do título traduzido, este ainda se contra num idioma morto, não conseguirá lê-lo…
Ela então o retirou do meio destes, depois me guiou por entre as grandes estantes por mais de cinquenta metros de livros até o teto, com certeza, uma vida humana comum como a minha jamais seria suficiente para ler tantos livros. Ao fim da caminhada chegamos a uma mesa de madeira fria e branca, onde nos sentamos e Aquila me entregou o primeiro livro, então afaste uma pilha de outros livros não traduzidos que havia a minha frente sobre a mesa, algumas penas e um tinteiro cheio de pedras secas que algum dia já foram tinta; acomodei-o e finalmente abri o livro, a letra estava difícil de ler, provavelmente escrita a mão e as pressas, haviam também muitas anotações ao lado, destacadas em pequenos quadros, parece que era um costume de Sunwish ao traduzir estes materiais, e antes de ler o título do primeiro relato deste livro, a anotação que se fazia presente, rebuscada por Sunwish era: Os relatos mais antigos conhecidos; em seguida, li:


A CRIAÇÃO DO MUNDO SEGUNDO AS VISÕES DE MERLIM.

Vivemos naquilo que nomeamos como Nosso Mundo, contudo, não pertencemos a ele; pois este jamais fora criado, sua existência já era antes de ser!
Na mente Do Criador nascemos, em seus pensamentos já existimos por incontáveis eternidades; porém éramos ainda desformes, não havia autonomia, apenas uma existência coletiva. Foram dias de paz e alegria em um mundo onde as árvores reluziam como o Sol num dia de verão, não havia noite, e mesmo assim, as estrelas dançavam nos céus e as vezes desciam para nos contar histórias de suas viagens pela existência.
Houve porém, um dia em que O Criador adormeceu, vindo a cair num pesadelo; então a noite desceu sobre os mundos, muitas pessoas se encheram de maldade e houve guerras sem mortes, pois na condição de pensamentos não existia a morte, logo O Criador acordou do sono e percebeu em tua mente os maus desejos, de guerra, violência, ambição e tudo de ruim que perdura até hoje em nosso meio; viu Ele que estes pensamentos não eram a tua vontade e sim o desejo que teus filhos tinham de viverem por si mesmos e não mais pelo Criador. Assim Ele decidiu que traria todas as criaturas que houvera imaginado dentro do véu a um mundo material, para que pudessem ter o livre arbítrio e interagir com tudo o que haveria de ser criado. Dessa forma nasceram dois tipos de homens que caminham um ao lado do outro: os maus, que buscam destruir, conquistar e mentir, pervertendo tudo o que tocam, pois tua vontade é movida pelo próprio desejo e repudio ao Criador; e as boas pessoas, que sentem que neste mundo não são completas, pois partilham com Ele seus corações e desejam estar novamente ao Seu lado.
Em seus pensamentos imaginou não somente os homens, como também as incontáveis raças e tudo o que existe e já existiu. Ele primeiro tomou parte do véu da própria existência, tingiu os céus de azul e pôs ali as estrelas, contudo, abaixo do céu havia só um grande abismo vazio. A fim de Lhe ajudar, as estrelas derramaram parte daquele véu, que passou a ser chamado desde aquele momento como Véu da Criação, naquele abismo o preenchendo, e formando o Grande Oceano.
O homem fora feito dentro do próprio Véu, porém fora criado adormecido, pois ainda não era chegada a sua hora. As Estrelas vendo que o homem era a imagem e semelhança do Criador sentiram inveja, pois pensaram que estes lhes tomariam o lugar de primogênitos, e foram ter uma audiência com o Pai, que lhes explicou que, como irmãos mais velhos, seu dever seria olhar pelos homens, pois apesar de serem a sua semelhança, eram também muito menores que as Estrelas. Assim todos os filhos tomaram consciência de seu papel para com toda a humanidade, apenas um pequeno grupo não se satisfez com esta missão, pois temiam que se tornariam míseros servos dos homens. E estes Astros bradaram aos irmãos afirmando que haviam nascido para um destino maior do que meros guardiães de seres menores. A cada dia mais e mais Estrelas se juntavam a esta ideia, e quando o número de rebeldes atingiu a terça parte, o Criador mandou que elas fossem expulsas da Criação. E houve luta no firmamento. Fora uma guerra que atravessou vários séculos dos homens mortais e tamanhos eram os estrondos de seus golpes, o céu ardia como fogo e a água abaixo elevavam-se as alturas produzindo ondas imensas. Em meio a ataques ferozes as Estrelas rebeldes eram mutiladas e as partes arrancadas de seus corpos caiam dos céus em chamas; seus restos foram se amontoando dentro dos oceanos, até que traspassaram a altura das águas e formaram toda a terra que está sob nossos pés. Ao término da guerra, as Estrelas caídas e mutiladas juraram retornar um dia e desceram dos céus desaparecendo abaixo da terra e o Criador percebeu que a hora estava chegando, pois a Primeira Era já havia terminado.
Tomando o fogo que ardia depois daquela dura batalha, os dragões foram feitos; por incontáveis gerações eles dominaram o mundo. As chamas da batalha ardiam dentro de si e possuíam muitas formas e tamanhos, escamas mais duras que o aço, dentes e garras afiadas. Seus nobres possuíam asas e dominavam os céus, de onde seu fogo descia como uma chuva torrencial.
Houve porém, um dragão sem asas, que passava seu tempo observando os irmãos que viviam entre os céus e os ventos, e certa vez, tomado pela ira, assassinou e devorou a carne de seus irmãos. Ele viu que o sangue era doce e perverteu seus filhos a provar dos semelhantes; esta família se multiplicou e dominou um vasto território, escravizando e devorando os de sua própria raça. Muitos eram os nomes de que foram chamados, entre eles Tiranos e Morte Encarnada.
Quanto mais seu império durava, mais sua loucura crescia, e eles não mais tinham consciência devorando uns aos outros por simples gula. Dessa forma os Dragões Frios foram quase todos aniquilados, restando apenas um pequeno grupo nas terras do Oeste, que descontentes com o comportamento dos Tiranos, convocaram todos os outros dragões, a fim de, investirem contra seus agressores, porém se depararam com três venenos que os impediu de se unirem sob um mesmo objetivo: os Nobres eram arrogantes e cheios de si, achavam-se acima dos outros dragões e não quiseram ajudar, se retirando para as terras altas do Leste; as Serpentes do Mar tiveram preguiça de se arrastar para a terra em defesa dos outros e desapareceram no grande oceano; os Dragões Negros apenas tomaram suas fêmeas e desceram as profundezas da terra, deixando tudo sob o domínio absoluto dos Tiranos.
Outra eternidade se passou dessa forma, até que os nobres pensaram que suas terras eram pequenas demais e desejaram conquistar tudo o que existia. Atacaram então todos os outros dragões com sua tempestade de fogo, que aniquilou tudo em seu caminho e os Tiranos foram extintos. A fumaça da carne de todas as criaturas que foram queimadas cobriu o Sol por quarenta anos e, por fim, apenas os nobres restavam debaixo do céu, assim, a terceira era se iniciava.
Os primeiros homens finalmente desceram ao mundo e se encontravam em uma condição etérea, dessa forma não poderiam interagir com a realidade. Então o Criador tomou da terra e lhes fez corpos materiais com os quais poderiam dominar sua própria existência.
Desde que o homem começara a caminhar sobre duas pernas, têm disputado espaço com a antiga raça dos dragões. Os séculos se passaram e eles continuavam vivendo com medo e se escondendo das feras que incendiavam suas casas. Para se defender espadas e escudos foram forjadas, porém, estas era inúteis contra os dragões não podiam perfurar a pele das criaturas, nem seus escudos os protegiam do fogo, apenas serviam para matarem outros homens, dessa forma eles se dividiram. Porém, mesmo divididos e por mais terrível que esta situação parecesse, os primeiros homens ainda tinham algo do Divino neles, por isso possuíam a vontade para lutar e proteger suas famílias, por causa dessa vontade, alguns deles poderiam talvez desafiar os dragões a custa de suas próprias vidas. As eram desiguais, mesmo para os homens mais fortes, não haviam armas que perfurassem a dura pele dos antigos dragões, então Gilgamesh1, um jovem guerreiro de sua tribo partiu então numa viagem para a Terra Ancestral, de onde vinham todos os dragões. A jornada durou trinta e cinco anos até atravessar o oceano que separa o Leste do Oeste, lá ele aprendeu uma forma de manejar o aço de tal maneira que sua espada agora era capaz de perfurar a pele de qualquer dragão, e sua armadura resistia finalmente as chamas das feras.
Quando retornou para sua terra, o reino dos homens no Leste, juntou um grupo de jovens e ensinou sua técnica, que foi chamada de Alquimia. Armados com espadas e escudos e protegidos por suas armaduras estes bravos guerreiros travaram uma batalha que durou vinte anos, até que enfim, o último dragão que afligia seu reino fora morto e as pessoas finalmente estavam em paz. Gilgamesh se tornou o primeiro rei dos homens e ficou conhecido como “Sangue de Dragão”.
Em poucos anos, o rei subjugou e criou também os reinos do Norte e do Sul, ainda assim, ninguém ousava atravessar o mar novamente, pois lá ainda reinavam os mais antigos, nobres e poderosos Dragões. Passaram-se muitos anos de paz até que os homens organizaram um pequeno exército munido com sua alquimia que foi mandado para Oeste; eles jamais retornaram, nem o segundo destacamento e nem o terceiro. Foi então que Gilgamesh resolveu que voltaria em pessoa as terras do Oeste em busca de Lilith e de conquistar as feras aladas; ele também jamais retornou e sem seu rei os homens se dividiram de novo em vários reinos menores.
Mil anos depois um homem chamado Arthur Pendragon surgiu e reuniu a maior parte dos povos sobre um ódio comum contra as criaturas que cada vez mais se aventuravam sobre os reinos dos homens destruindo e devorando-o. Arthur marchou do Leste ao Norte e depois para o Sul, matando todos os dragões que encontraram pelo caminho para só então se dirigiram para as terras do Oeste.
Entretanto, lá não encontraram nenhum dragão, em seu lugar haviam apenas homens selvagens, um povo agressivo que andava nu nas florestas e os atacava com flechas e lanças de madeira; eles porém, não representaram um grande problema para os cavaleiros de Arthur, foram facilmente subjugados e obrigados a revelarem sua morada. Ao chegarem a Cidade de Galhos e Ramos dos selvagens, os homens do Leste se admiraram com uma enorme construção rodeada pelas cabanas rústicas, era uma pirâmide de seis lados coberta de cristais coloridos, com escadarias em todos os lados, seu topo era reto, formando uma plataforma, onde havia uma magnífica espada cravada no chão, era obvio que estava ali a séculos. Alguns dos cavaleiros que acompanhavam Arthur tentaram remover a espada, porém não obtiveram sucesso, a lâmina se recusava a sair. Então chagada a vez do próprio líder do exército ela cedeu como se não tivesse peso algum, era uma arma tão poderosa como que para cortar até mesmo o aço, então ele a chamou de Excalibur, e a esgrimiu como um verdadeiro mestre, até mesmo os selvagens que ali habitavam, reconheceram-no como um grande rei e pintaram aquilo que viram em sua pirâmide e nas cavernas próximas. Vendo que nada mais se aproveitava nessa terra barbara, retornou a Camelote, onde se tornou o maior dos reis entre os três reinos.
Durante mais cinquenta anos Arthur e seu exército levaram a guerra aos reinos do Sul e Norte, Arthur era tanto um rei quanto um general e atuava na linha de frente, sua espada era tão afiada que dividia tudo em seu caminho, até mesmo as muralhas de seus inimigos, logo todo o continente estava sob seu controle, e todos os reinos unidos sob uma mesma bandeira, aqueles que não se uniram a ele em vida, se tornaram sacrifícios ao rei dos homens, sendo totalmente apagados até mesmo das lembranças de suas famílias, tamanho era o poder do rei.
Seu reinado contudo, durou a partir da unificação cento e vinte e sei anos e mesmo com todos os seus cavaleiros de confiança mortos, Arthur não aparentava ter envelhecido um dia sequer!
O temor se instalou no reino, um pouco de cada vez, a princípio apenas os camponeses cochichavam em segredo, logo toda a guarda real e os lordes de suas casas temiam olhar para seu rei imutável, pois vários camponeses já haviam perdido suas cabeças e Arthur se voltava agora para seus apoiadores. O rei passou a ser chamado de “A Mão do Diabo”, pois diziam que ninguém seria capaz de viver tanto, a não ser que houvesse vendido sua alma ao maligno; um rei sinistro sentado em seu trono negro contemplava com grande desprezo os homens, era visível sua crescente loucura, portanto seus súditos, tomados pelo medo, conspiraram contra ele e certa noite, após ter adormecido, Lancelote5, que era seu braço direito, tomou uma faca em punho e assassinou-o durante o sono. Em seguida a conspiração buscou a posse da espada, pois acreditavam que guardava o poder da imortalidade, porém encontraram a própria morte naquilo que os camponeses ignorantes chamaram de A maldição de Excalibur. A espada jamais foi vista novamente, porém a busca dura até hoje, o coração dos homens deseja o poder e assim sendo, deseja Excalibur…

Biblioteca Eratóstenes, texto número 727.


– … V-Van… Vaniel… VANIEL!!! – subitamente uma voz me chamou.
– Aquila, disse alguma coisa?
Mas ela não estava mais sentada a mesa, parece que enquanto mergulhei na leitura, ela houvera se levantado e saído, então, outra vez uma voz chamou por mim, não era a de Aquila mas parecia misturada ao ar e ecoou por toda parte sem que fosse possível dizer de onde veio.
– Vaniel… Vaniel… Vaniel…
Era etérea e fantasmagórica, mas agora me soava terrivelmente familiar, era minha mãe (adotiva), como poderia ser isso?
Retornei pelo caminho que houvera feito, passando pelos milhares de livros que deveriam estar ali, mas não encontrei Aquila, a biblioteca estava completamente vazia e silenciosa agora, continuei a caminhar até chegar ao corredor da entrada, e quando sai, as luzes da sala anterior se apagaram, o que foi particularmente estranho, pois significava que Aquila não estava na sala, ou então as luzes permaneceriam ligadas. Chamei por minha companheira, mas minha voz ecoou pelos corredores vazios e o ar apenas se encheu de um clamor medonho, até que aquilo cessou e a voz de Myriandra surgiu novamente, mas desta vez vinda do fim do corredor, ela me chamava e havia pânico em sua voz. Temeroso percorri o corredor até o fim, e as luzes a minha frente se acenderam revelando outra escada para o andar superior, mas antes de subir, chamei por Aquila novamente, revivendo os ecos de angustia do local, em seguida a voz de minha mãe adotiva chamou com ainda mais força, não mais um som fugidio, indefinido, mas agora eu tinha certeza que ao subir as escadas a encontraria no andar de cima sofrendo, quem sabe presa e torturada pela própria Nightwish que me odiava tanto!
No topo das escadas percebi que este corredor era diferente do anterior, tudo era branco e limpo, sem um traço de poeira sequer, parecia com um hospital e certamente a área estava sendo usada naquele momento, bastou alguns passos para que grandes portas de vidros revelassem leitos perfeitamente arrumados e aparelhos de metal estranhos nas paredes, com certeza um médico, ou uma médica, havia ali!
– Vaniel, Vaniel, me ajudá!
Outra vez minha mãe pediu por minha ajuda e agora não houve tempo para pensar, apenas corri tão rápido como minhas pernas foram capazes de me transportar desde o corredor esterilizado até uma porta de vidro cristalino, porém, mesmo que o vidro fosse tão claro e limpo, não se podia ver o interior da sala, este estava oculto atrás de uma cortina azul e grossa, como se ocultasse algum mal prejudicial a visão atrás de si; mas no instante que minha mão tocou a maçaneta redonda de madeira negra, duas esferas perfeitas, brilhantes e amarelas reluziram por trás da grossa cortina, eram do tamanho de uma bola de basquete e refletiam leitos e máquinas atrás da cortina, a visão me manteve imóvel, encarando-as, como se houvesse caindo num transe que havia parado o tempo ao redor, tudo estava silencioso, e o brilho amarelado chegava a ser confortador. Mas as esferas brilhantes e ternas inesperadamente piscaram, me libertando momentaneamente do “encanto”… eram olhos!!!
A respiração de algum tipo de animal enorme se fez audível, assim como o som de garras raspando pelo chão, então a lembrança da conversa com Aquila surgiu:
– Se realmente quer andar sozinho neste mundo, deveria permitir que Sunwish lhe ensine o que precisa, mesmo que não tenha a intenção de retornar a Terra, pois não é seguro andar por aí sem saber se defender.
– Não se preocupe, não sou tão indefeso quanto pareço, tive muitos anos de treino de Artes Marciais!
– Não seja tolo Snow, não conseguiria levantar a mão contra ninguém daqui, além do mais, neste mundo não há leis divinas que o proteja de ataques sobrenaturais como no momento atual de seu mundo, não duraria nem cinco minutos sem um de nós em tua presença!
A que tipo de criatura pertenciam aqueles olhos?
Sem dúvida, era um dragão dos quais houvera lido que estava atrás daquela cortina, este pensamento foi ainda mais aterrador do que a visão do monstro em si e precisei desprender um esforço inimaginável, a fim de, conseguir que minhas pernas se movessem, ainda que com passos vacilantes, tentei correr, mas não consegui ir muito longe. Ouvi uma pancada muito forte, em seguida o som de vidro rachando, eu não conseguiria chegar nem mesmo a escada para o andar inferior!
Então me atirei cambaleante na primeira porta que encontrei, passei me apoiando no que quer que encontrasse, tanteei por algumas camas e virei por um corredor nos fundos, a esquerda, atrás de uma grossa parede onde pude retomar o folego e tentar me acalmar. Passei pela sala tão rápido que sequer me dei conta dos equipamentos simplesmente surreais que haviam naquela sala, então me encostei na parede, como se tentasse me esconder e apenas fiz silêncio. Depois de dois ou três segundos do mais puro silêncio, o estrondo que se seguiu me deu a certeza de a porta de vidro que confinava o réptil fora despedaçada em mil estilhaços que se chocaram contra a parede a frente do que costumava ser uma porta; em seguida vieram os sons de passos e garras pressionadas contra o chão, que, pouco a pouco, se tornaram mais e mais fortes, até cessaram bem em frente a mesma porta que eu mesmo houvera atravessado.
A criatura entraria a qualquer momento, então me virei em busca de outra saida no fim da sala, mas não havia nada senão um beco sem saída, a única coisa que encontrei foi um armário metálico que aparentava ser imensamente resistente, mas que não tinha tamanho suficiente para me abrigar, sem escolha, ainda o abri em busca do que quer que houvesse e que pudesse ser útil e afinal, havia mesmo algo, pois me encontrava num mundo militarizado, em um prédio do exército, os estranhos objetos negros e cheios de canos que encontrei eram, sem dúvida alguma, armas de fogo!
Havia algum tipo de revólver de cano longo, semelhante a uma arma semiautomática, de metal prateado brilhante, frio e pesado; sem pensar, apanhei um deles no mesmo instante que o animal atravessou a segunda porta de madeira com um violento golpe; com o objeto nas mãos, retornei então a esquina do corredor que dava para o quarto de leitos, rapidamente apontei a arma com as mãos trêmulas e puxei o gatilho, mas nada aconteceu, nenhum barulho, nenhum coice, nenhuma reação da criatura; apontei a arma novamente em direção a fera e puxei o gatilho repetidas vezes, mas nada acontecera e a criatura própria semelhante a um lagarto de duas patas pareceu se admirar, ele sequer se mexeu ao ouvir os estalos secos feitos pela arma, mas passado o interesse, o mostro deu um passo em minha direção.
– Vaniel, Vaniel, me ajude!
A voz de minha mãe adotiva se fez presente de novo, mas vinha da criatura!
– Vaniel… Vaniel, me ajude!
_ Vaniel… Vaniel, me ajude!
Outra vez ela me chamou, mas agora pude ouvir duas vozes se sobrepondo uma a outra, a segunda era aguda etérea e sombria; e para meu alívio, Aquila simplesmente ressurgiu de pé, detrás do lagarto e trazia Kusanagi desembainhada, mas foi apenas ao olhar fundo em meus olhos que a criatura se deu conta da presença da Elite, então o mostro se virou em sua direção de forma ameaçadora, como se se preparasse para dar um bote, mas não o fez, a fera apenas se encolheu, como se já soubesse que havia ali alguém capaz de matá-la com facilidade, Aquila mataria o dragão e salvaria minha vida!
Ela porém, me olhou com um sorriso muito mais do que maligno e disse:
– Projeteis até que são divertidos garoto, mas não são nada confiáveis Snow, nada conseguirá com eles frente a esta ave.
Ela ergueu sua espada, e o monstro se encolheu até o chão, porém, ela não desferiu golpe algum, apenas balançou Kusanagi de um lado ao outro de modo que seus cabelos me pareceram acompanhar o movimento, em seguida a atirou em minha direção dizendo:
– Não a deixe cair, ou me enfrentará em vez da ave!
Apanhei-a em pleno ar pelo cabo depois de ter voado por cima do eu ainda achava ser um lagarto acuado ao chão, Kusanagi era mais leve do que aparentava, ou quem sabe minha força física que estava maior naquele mundo; assim como da primeira vez, um fraco clarão, porém visível apenas a mim preencheu o local por segundo, minha visão subitamente se tornou mais nítida, a luz de Kusanagi houvera se ligado a minha, e agora, penas vermelhas saltavam aos meus olhos, penas estas que cobriam um corpo esguio e maleável como o de uma serpente, mas que terminavam num enorme bico negro e pontiagudo, sustentado por um par de pernas grossas com quatro dedos e garras quase do mesmo tamanho de Kusanagi, não era um réptil, mas um tipo de ave de rapina dominado pelas feições de uma serpente.
Imediatamente a criatura se ergueu confiante do chão e ocultando atrás de si a figura de Aquila recostada em uma parede sorrido com seus braços cruzados; em pânico apertei firme o cabo da espada e coloquei entre mim e a criatura, como se fosse uma barreira; seus movimentos eram rápidos como os de uma cobra e até sibilava como elas; velozmente seu bico afiado se pôs em curso de atingir meu coração, mas com um agitar desajeitado da lâmina em minhas mãos o pássaro recuou temendo o simples fato de poder ser tocado, mas não golpeado por ela. Percebi então que poderia, ao menos, fazê-la recuar daquela maneira, então agitei a espada no ar displicentemente de modo a afugentá-la; a ave então se encolheu contra a parede dando lagos passos para trás, depois voltou a tentar investir, mas temeu passar pela espada em minhas mãos outra vez; repetindo o feito mais algumas vezes, pude passar quase me esfregando na parede oposta e sobre as camas, até chegar a Aquila, mas esta não se importou com o gesto que fiz buscando entregar-lhe sua arma, ela apenas disse:
– Não moverei um dedo para te ajudar Snow e seria melhor não dar as costas de novo a uma Ave do Fogo.
Sem que eu percebesse, as garras da serpente emplumada estiveram a centímetros de meu peito quando tentei entregar Kusanagi a Aquila, fora apenas o medo da lâmina que impediu a ave de completar seu ataque, e percebendo isso, novamente me voltei para Aquila:
– Por favor Aquila, eu não sou capaz de fazer nada contra essa fera, me ajude, se não fizer nada ela me matará!
– Se não pode fizer nada contra uma simples Águia de Fogo – respondeu ela – mesmo estando com Kusanagi em suas mãos, com certeza, Starwish matará a todos em seu mundo e trará outro Reino de Cristal!
O terror que suas palavras traspassaram era o mesmo que o mostro emanava sobre mim, e eu nada poderia fazer além de correr para longe, foi o que fiz, corri em direção da escada para o andar de baixo com a serpente emitindo um som indizível e vindo atrás de mim, um misto de canto de ave com o sibilar de uma cobra que segue sua presa. Meus pés fraquejaram novamente e os degraus da escada se tornaram uma armadilha mortal que me atiraram com imensa velocidade seguida de dor ao andar mais baixo, mas não houve tempo de conferir se eu havia quebrado algo, pois i mediatamente a criatura saltou do alto da escada sobre mim, me esoncodendo em sua sombra instantaneamente, mas por nada além de um puro e simples instinto de sobrevivência, levantei Kusanagi como uma barreira entre mim e ela e a mantive tão firme como minha súbita onda de adrenalina poderia manter, senti a ponta da lâmina perfurar o peito da criatura e ouvi seu grasnar de sofrimento, senti o sangue descer sobre a espada e percorrer o meu braço me queimando como água fervente por onde passava, as longas pernas da criatura porém, a mantiveram a certa distância e evitaram um golpe fatal, então de um salto ela correu pelo corredor do andar inferior deixando uma trilha de sangue. Aquila desceu até mim, apanhou Kusanagi e disse:
– Isso foi tanto promissor, quanto decepcionante!
– Um passo foi dado para frente, antes porém, vários foram dados para trás!
Ela não me ajudou a levantar, mas sorriu sem malícia alguma quando fiquei de pé, me encorajando a perguntar:
– O que era aquela coisa?
– Assustado? – perguntou ela – não fique, ainda há coisas muito piores, do que as meras criaturas fabricadas que estão a nossa volta, nenhuma delas pode fazer qualquer coisa com um portador.
Naquele momento me lembrei do dia em que houvera chegado a aquele mundo, pois desde o início, Sunwish parecera apreensivo quando estivemos na floresta, mas certamente, não era uma simples ave carnívora, por maior que fosse, que o ameaçaria, certamente haveriam coisas piores no mundo, mas eu ainda não as conhecia, antes porém, me pus a ouvir a descrição de Aquila sobre a criatura que havia visto:
– Nos a chamamos de Aves do Fogo ou Águia de Fogo, uma das responsáveis pelo que seu mundo chama de combustão espontânea; se trata de uma criatura nascida do DNA de uma Fênix, numa tentativa do Leste de sobrepujar dragões imperfeitos, mas a criatura resultante disso não era imperfeita, ao contrário, era uma perfeita imagem em miniatura da verdadeira Fênix do passado, mas não responde a ninguém, não tem nenhum mestre que não seja seu extinto de caça.
– Antes de se libertarem, era como o Leste conseguia capturar cobaias de sua Terra para seus testes, e como ela “não é exatamente deste mundo”, possui a capacidade de sair e entrar dele quando quiser, mesmo que estejamos em tribulação.
– Seguindo o costume de seus criadores, as Aves do Fogo têm se alimentado de pessoas de seu mundo e as vezes observam sua preza durante anos, esperando um momento propício para imitar a voz de um familiar ou amigo, para então a capturar, provavelmente esta, em especial, o observava a muito tempo.
Então subitamente, mais lembranças vieram a minha mente, como que ecoando numa voz audível:
– “Irmã, eu precisu ir, porque o que me faz ir embora, é a voz que ouvi chamando o meu nome, parecia, no começu, até um pássaro cantando, uma voz vinda do céu, ela me chamou por cima de uma Bíblia, este é o meu chamado e vou atender!”
– “Esta é Vanessa, ela têm ouvido os mesmo chamados que eu, as mesmas voz, é por isso que vamos casar.
DESAPARECIMENTOS INEXPLICÁVEIS EM CIDADE DO INTERIOR.
– Seguindo o costume de seus criadores, as Aves do Fogo têm se alimentado de pessoas de seu mundo e as vezes observam sua preza durante anos, esperando um momento propício para imitar a voz de um familiar ou amigo, para então a capturar, provavelmente esta, em especial, o observava a muito tempo.
Uma onde de raiva tomou conta de mim, como poderia haver um ser como este, que imita alguém importante dentro de uma família, em seguida a destrói para saciar a fome?
– Aquila, e-existem mais como ela neste mundo, existem mais Aves de Fogo?
– Sem dúvida alguma – respondeu ela – mas é totalmente impossível saber seu número, não são como os dragões imperfeitos que são estereis e vieram da mesma mãe, estas aves procriam entre si e pela capacidade que tem de vagar pelos mundos, certamente já se espalharam por todos os reinos materiais como uma praga a devorar os homens.
– Na verdade sempre que possível, Sunwish, Nightwish e eu as abatemos, mas esta, Sunwish sugeriu deixá-la atacá-lo como parte de seu treino, e como você não a matou, tenha certeza de que ainda terá outra oportunidade!
– Quando ela vier, então a matarei, não permitirei novamente que ninguém seja caçado da mesma maneira que fui, nem devorado da mesma maneira que meus pais foram!
Ainda não sei se realmente sinto falta deles, pois jamais o conheci, mas criança alguma deveria crescer sem pais verdadeiros que o ama e lhe têm cuidado, foi isso que as imagens transmitidas a mim naquele dia me revelaram, que meus pais me foram tirados em favor da morte e por isso, fui jogado ao infortúnio de uma péssima família.
Me levantei e Aquila e eu seguimos para a saída do prédio. Nosso destino?
O Círculo da Mudança, onde eu continuaria meu treino, até ser capaz de destruir a criatura!
Mas quando estávamos a ponto de cruzar pela saída do prédio em direção a rua, Aquila me deteve pondo a mão esquerda sobre meu ombro, enquanto levou a direita sobre a espada e disse:
– Eles sempre aparecem quando sentem o cheiro do sangue das Aves de Fogo.
Olhei ao redor imaginando a que tipo de nova criatura ela estaria se referindo, mas nada vi, senão apenas escutei algo como passos e garras de centenas de seres.
– Bem – falou ela – ao menos teremos carne fresca hoje, mas se não fosse pela ave, você não precisaria saber de onde vem nossa carne!
Aquila então suspirou ansiosa pelo combate, agitou os cabelos e sacou sua espada, que foi prontamente recebida por uma chuva que transmitia tristeza aos olhos que a observava.
– Há uma quantidade anormal deles aqui Vaniel, preciso que corra até Sunwish e peça ajuda, sozinha não serei capaz de enfrentar a todos, vou segurá-los o quanto puder para que possa passar em segurança até que os outros chegem.
O terror e um cheiro de sangue se impregnou na cidade, até o Prédio Branco pareceu se deteriorar mais naquela névoa invisível, então perguntei:
– Mas Aquila, como passarei por tantos deles como disse que há quem nem você pode dar conta, se apenas uma ave quase me matou?
– Hora cresça Snow – gritou ela – não fique chorando só porque uma galinha gigante tentou apanhá-lo!
– E como eu disse, eles são atraídos pelo cheiro do sangue das Aves de Fogo, Kusanagi está repleta dele, eles sequer olharão em sua direção.
Aquila então saiu correndo pela porta do prédio e se dirigiu na direção contraria a casa que me hospedava, imediatamente centenas de lagartos meio tortos mas com formato humanoide de core escura ou esverdeada, passaram correndo atrás dela; contive o espanto e o medo, então procurei por um caminho entre os lagartos que pareciam brotar até mesmo das paredes do prédio, das casas ao redor ou dos escombros próximos, levou algum tempo até que desobstruíssem a passagem, então sai correndo pela porta na direção contrária a de Aquila, não sem antes olhar para trás e ver um amontoado de répteis grotescos subindo um sobre o outro e tentando atacar algo que estava mais a frente, na mesma direção em que gritos ferozes e excitados eram dados por Aquila.
Corri sob a chuva fria apenas por poucos metros antes de perceber que a água que escorria de meu braço direito pingava vermelha ao chão, pois o sangue da Águia de Fogo havia escorrido por Kusanagi e atingido o meu braço como água quente, e ao mesmo, tempo que ele pingava novamente, reavivado pela água da chuva, um som como que de milhares de pisaduras me cercava; os répteis estavam tão próximos a mim e o som era tão ensurdecedor que já não havia esperança, até os gritos de fúria de Aquila haviam cessado, e a chuva diminuía.
– E-estou perdido…
Sobrepujando o som dos passos monstruosos, Aquila gritou novamente, mas desta vez era um grito de dor e sofrimento, que imediatamente pôs fim a chuva e se não havia chuva, Kusanagi não era mais empunhada, Aquila, estava morta!
– Outra vez estes monstros roubam a vida de alguém diante de meus olhos!
Enraivecido, senti uma onda que me pareceu se tornar vermelha no ar, se dispersando atrás de mim e voltando de encontro a minha mente, senti um hálito podre que cheirava a morte as minhas constas; sequer consegui pensar em nada se não em destruir aqui, foi quando golpei exatamente face a face a criatura que saltava sobre minhas costas e fiz com todas as forças que tive, com toda a concentração que minha mente pôde empreender; então a vi se despedaçar no ar e substituir a chuva por uma nova, mas vermelha; por mais que tenha sido incrível e poderoso aquele golpe, restavam ainda centenas de répteis ao meu redor que se aproximavam tão velozmente que também seu hálito era sufocante, mas se tivesse de morrer, eu não fugiria mais como uma criança indefesa, eu sabia agora que era forte, então as olharia nos olhos, me preparei para encará-las, mas tudo o que vi foi Aquila se aproximando de mim, descendo de nada menos que uma montanha de cadáveres com um sorriso estampado no rosto, mas desta vez, este não era em nada maligno. Mas num ato final de estranheza da situação, a imagem da guerreira a minha frente se desfez no ar, ocultando também a pilha de cadáveres que jazia bem em frente ao Prédio Branco, em seu lugar havia agora uma rua deserta e organizada, a mesma que me levaria a casa de Sunwish; os passos de Aquila então se aproximaram de mim pelas constas, e quando ela finalmente se colocou a minha frente disse:
– Finalmente conseguiu Vaniel, e bem na hora, Sunwish disse que você já está ficando sem tempo.
A chuva então voltou a cair após o decreto de sua portadora e o sangue dos répteis que despedacei momentos atrás, escorreram sob meus pés, vindo pelo chão como um pequeno rio desde as minhas costas até passar por mim e se colocar a caminha da casa de meu anfitrião, só então é que me dei conta de que eu não havia me virado de verdade para trás quando golpei de frente a criatura que saltava sore mim…


| NOTA 1 | GILGAMESH – Rei da antiga Suméria, sua história foi encontrada gravada em tábuas da Mesopotâmia (acredita-se que tenha sido compilada no século VII antes de Cristo), sua história narra a busca por uma espécie de “Jardim do Éden”, o que claro levou os pesquisadores a “Teorizar” que poderia ser o épico, um “ancestral” da Bíblia (Antigo Testamento) que conhecemos, já que é notável que existem semelhanças entre o épico de Gilgamesh e o Livro de Gênesis na Bíblia, aparentando contar a mesma história sob o olhar de culturas distintas. Semelhantemente especula-se que a Odisseia de Homero seja o “Ancestral” da narrativa do Novo Testamento.

| NOTA 2 | ARTHUR PENDRAGON – De acordo com histórias medievais, ele combateu invasores saxões que invadiram a Grã-Bretanha no fim do século V, sua existência histórica tem sido contestada por historiadores.

| NOTA 3 | CAMELOTE – Nos contos mais antigos que se conhece, Camelote nunca havia sido mencionada, ocorrendo pela primeira vez no livro “Lancelote, o Cavaleiro da Carreta”, do poeta francês Chrétien de Troyes. Anteriormente a esta obra, a cidade associada a sede da távola-redonda era Caerleon, localizada no País de Gales.

| NOTA 4 | LANCELOTE – Sua primeira aparição como personagem principal se deu em Lancelote, o Cavaleiro da Carreta, escrito no século XII. Lancelote é tido como o maior campeão de Arthur, mas ele acaba por se apaixonar pela rainha de Genebra, tal amor é o estopim de conflitos que acabam destruindo o reinado de Arthur.

Comentários

RECOMENDADOS:

COMO É O INFERNO?

Falar sobre o inferno simplesmente não deixa de ser um assunto interessante (bem… digo isso na falta de palavras mais “adequadas”…) este não é descrito unicamente na Bíblia Cristã, diversas outras religiões e mitologias ao redor do mundo possuem sua própria “versão” do inferno com particularidades e semelhanças que são notáveis. Contudo, este artigo não se destina a compará-lo nos mais diversos cenários, mas sim compartilhar alguns relatos escolhidos a dedo que são (a meu ver) bastante relevantes e/ou interessantes, portanto merecem, ao menos, serem conhecidos. Pintura portuguesa a óleo sobre madeira, datada entre 1510 e 1520, seu verdadeiro autor é desconhecido, mas teria sido encomendada e guardada no Convento de São Bento da Saúde. Eu recomendaria iniciarmos nossa viagem falando sobre o Inferno de Dante, porém, sobre isso acabei discorrendo num outro projeto aqui do Blog (e não pretendo revisar e “relançar” todo o texto), que basicamente é uma revista virtual sobre animes, games e c