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CAPÍTULO 16 – OS PRIMEIROS DIAS NO MUNDO ACIMA DAS ESTRELAS. (RASCUNHO)

Toda a minha estada naquele mundo me pareceu algo como três ou quatro meses segundo nossa própria medida de tempo, mas no primeiro dia, nada mais fizemos senão falarmos sobre a natureza do universo, apenas a partir do segundo dia, e talvez tenha sido assim para minha própria segurança, é que me foi apresentada uma rotina e um tipo de treino a seguir: em todas as manhas acompanhei Aquila à aquele mesmo lugar onde apanhávamos alguns Pães Sangrentos e devo dizer que, em cada uma das vezes, busquei com o olhar um rastro, um vestígio, uma silhueta de outro habitante de Cosmos, sequer aquela outra garota que provavelmente era a responsável por fabricar os pães, se apresentou diante de mim; depois de apanhá-los, Aquila e eu conversávamos sobre os fatos que aconteceram naquele mundo no caminho de volta para a casa, comparávamos nossos mundos durante as conversas e havia enorme semelhança entre eles, tive até mesmo a oportunidade de ver os carros daquele lugar, tão diferentes do e, mesmo assim, tão semelhantes, provavelmente minha calma durante estes acontecimentos se davam, em parte, pela grande familiaridade do lugar.
Ao retornarmos, todos (exceto Nightwish) nos sentávamos a mesa e Sunwish e eu conversávamos, ainda havia muito a ser dito mas, estranhamente, não existia pressa:
– Snow, tens ainda chances de recuperares teu lugar, tua casa, e evitar que Starwish realize outro sacrifício a Excalibur!
– Minha c-casa… – murmurei – não sei se realmente vale a pena voltar pra lá.
Ao ouvir minhas palavras Aquila sorriu de maneira assustadora, mas suas expressões já começavam a me parecer mais familiares e menos aterradoras, então ela disse apanhando alguma coisa no canto:
– Pegue – e me atirou alguma coisa – são suas roupas para o treino, terminamos de produzi-las bem a tempo, não que o tempo tenha alguma importância para você, é claro!
– Estou certa de que ficará satisfeito com elas.
Eu não saberia dizer se as expressões de Sunwish e Aquila naquela hora eram de deboche, de pena ou de orgulho, certamente os habitantes daquele lugar pensam e falavam de forma muito diferente de nós, enquanto as abria e observava, perguntei:
– O que quer dizer com: não que o tempo tenha alguma importância… ?
Sunwish respondeu:
– Ao contrário do que ocorreria conosco, isto é, nós, os habitantes deste mundo, tu não perderás tempo algum não importa o quanto demore a retornar para a Terra, desde que não esgote o tempo que tens… estou vendo pela tua expressão que não me fiz claro nas palavras, permita-me explicar melhor: a base da Terceira Dimensão, o teu próprio Mundo, é mais material do que este, o nível intermediário entre as três. Aqui existe uma mistura um pouco mais harmoniosa do que é natural e o que é Espiritual; espíritos não estão atrelados ao tempo como a matéria está, resulta que ainda lhe resta tanto tempo quanto precisares para retornar!
– O que quer dizer – perguntei – é que o tempo corre mais devagar neste mundo?
– Outrora já foi assim, antes de entrarmos na Tribulação, entretanto neste momento podeis dizer isto apenas em teu caso, a verdade é que o tempo de vosso mundo é aquele que se esgota, por consequência vossa vida também é mais curta que as nossas.
– Entretanto, nos deslocamos entre os mundos acabamos por perder um tempo equivalente a anos numa viagem de poucos minutos, é por isso que Sol e Lua passaram tantas vezes abaixo de seus pés, embora tu ainda estejas no mesmo instante em que “morreste”!
Confuso?
Eu também, porém suas palavras me lembraram daquela conversa que tivemos na Terra:
– É melhor continuares treinando com tanto afinco quanto puderes garoto, pois, passarão poucos dias até que algo pior do que os valentões que enfrentaste ontem apareçam…
– Como assim ontem, do que está falando?
– Aquilo que aconteceu, foi a pouco mais de dois anos!
– Deveras, apesar de não aparentar a mim mesmo, realmente sofri uma grande perda de tempo em que este infante continuou correndo normalmente…
De modo que, ao menos, uma pequena parcela do que havia sido dita me foi possível compreender, e sobre ela perguntei:
– É por isso que quando nos encontramos pela segunda vez você me disse aquelas palavras…
– Quer dizer que mesmo que eu retornasse, anos se passariam?
– Em circunstancias normais sim – respondeu ele – como quando Nightwish desceste a vosso mundo, a perda de tempo que a mesmo sofrera somou cento e vinte e seis anos.
– O-o que… – exclamei – quantos anos ela tem?
– Quanto tempo vivem as pessoas daqui?
– Garoto – disse Sunwish – mesmo em teu mundo não é adequado questiona a idade de uma dama e no caso desta em particular, é deveras perigoso!
Sunwish riu com suas próprias palavras, em seguida comentou:
– É o que lhe agradaria?
– Ter mais tempo de vida?
– se tu, Vaniel, resolveres não retornar e tiveres tua existência reconhecida aqui, ainda assim não herdaria o tempo de vida que Starwish teria, pois teu sangue é vermelho.
– O que quer dizer com sangue vermelho?
Então Sunwish me explicou:
– O motivo de sermos tão fortes e rápidos, não se encontra unicamente neste mundo, ou no tempo extra de que dispomos, porém, nosso verdadeiro poder está na prata e no ouro.
– Eu não entendo – questionei – seu poder está nas riquezas?
– Sois muito lento em teu pensamento Snow – respondeu ele – teu sangue é vermelho devido ao ferro o permeia, desde o teu cérebro até tuas mãos, aquilo que conduz as correntes elétricas de teu corpo não é outra coisa senão este mesmo ferro, mas tu também respirais, e o que ocorre quando o ferro entra em contato com o oxigênio?
– Enferruja…
– Excelente, pesaste mais rápido desta vez Snow. O que estou dizendo é que o ferro em teu sangue enferruja quando respiras, por isto teu sangue é vermelho, por isto vos envelheceis, além disto, o ferro é um condutor elétrico muito lento, é por isto que, ao contrário de nós deste mundo, não podeis sequer se esquivar de balas.
– Ainda não entendo – perguntei novamente, na verdade, me encontrava perdido – o que o ferro tem a ver com tudo isto, por acaso o seu sangue não é vermelho?
– Embora eu também seja um portador, não tive a prata de meu sangue substituída por ouro, tal qual Nightwish, por exemplo, ela sim viverá bastante, este é o motivo de nossa força, a prata e o ouro são condutores elétricos muito mais eficazes, por isto é que pensamos e nos movimentamos mais rápido e, muito embora, uma maior manifestação de tua alma possa aumentar tuas capacidades, isto não o tornará um de nós se teu corpo não tens capacidade para acompanhar tal condição, tampouco há agora cientistas vivos que possam transformar teu sangue em ouro.
– Este era o objetivo da alquimia de teu mundo, pois viera em primeiro lugar do nosso, não transformar chumbo em ouro, porém, a maneira de criar o elixir da vida é tornar o sangue em icor.
– Creio ser isto também o que teu povo busca alcançar com teus programas espaciais, já que no passado já tivemos contato e fomos chamados por vários nomes, entre eles Elfos, talvez pelo fato de não envelhecermos.
– Isso sim é tentado – respondi olhando para as orelhas de Sunwish – prefiro ficar aqui do que retornar para um lugar ao qual não sou bem-vindo, até porque, se anos se passarão antes que eu chegue, um novo Reino de Cristal será criado, então de que adiantaria meu esforço?
– Acalma-te Snow, Starwish também deverá ficar quieto em teu mundo para ser adequado ao mesmo, e no caso dele, a espera será ainda maior que a tua, pois ele permanece ligado a este mundo e tu ao teu, embora esta ligação se esvaia a cada segundo, porém, é por isso que tens ainda uma chance de retornares a aquele mesmo instante de tua partida.
– Devo avisar porém que, se voltares agora, nada poderás fazer, Starwish é muito superior em capacidades a qualquer pessoa da Terra, deves treinar e aguardar o momento em que a troca esteja mais avançada, desta forma suas chances estarão equilibradas, este é o motivo de termos confeccionado tais roupas para ti!
Então voltei minha atenção para as pesadas vestes que me haviam sido entregues por Aquila antes; seu tecido era grosso, mas maleável, se podia ver as costuras em linhas negras contrastando com a cor do tecido e tais linhas, eram tão grossas e rijas, que mais pareciam minúsculas correntes em meio ao pano que era tão absurdamente branco que até chegava a reluzir quando exposto a luz; sobre seu modelo não há maneira melhor de descrever senão dizer o que realmente era: um quimono, simplesmente um quimono como qualquer outro usado em uma arte marcial nipônica na Terra, o próprio Sunwish me disse depois que uma roupa como aquela não existia em seu mundo mas que fora produzido especialmente para mim; ao mesmo tempo, esta versão era cerca de cinco ou seis vezes ainda mais pesada do que as roupas que estava usando destinadas a um Elite iniciante daquele mundo, as quais já eram tremendamente incomodas para pessoas como nós.
– Não te preocupes com o peso Snow – disse ele – vista-as agora, verás que tuas capacidades físicas têm aumentado gradativamente em Cosmos.
Mesmo que realmente tenha sido possível para mim usar uma roupa tão pesada assim, vesti-a com grande dificuldade, a faixa preta que acompanhava o traje possuía muito mais peso e resistencia que o resto do quimono; no início, o peso da roupa era tanto que me impedia de caminhar normalmente. Sunwish disse:
– Já que tens teu uniforme, porque não começamos o treino imediatamente?
Que tipo de treino eu teria naquele mundo?
Existia ali, o que chamamos de artes marciais?
Nem Aquila e nem Sunwish me responderam a isso, eles apenas se levantaram e pediram para que os seguisse, cada um com um sorriso no rosto, embora apenas o de Aquila fosse, de certo modo, maligno. Ainda estava escuro, isto é, tão escuro quanto se pode ficar naquele mundo, o que significa que havia uma fraca luz, porém suficiente para sustentar a visão plenamente; eles me conduziram por caminho familiar, pois caminhamos pelo mesmo trajeto que fiz no dia anterior, quando cheguei a aquele mundo, em direção a floresta de árvores negras e cristais reluzentes.
Por ruas tremendamente lisas e limpas, nós caminhamos até que a floresta se mostrou a borda da cidade, foi então que tomamos outra rua a direita, a qual andamos por quatro quadras até um tipo de praça ou qualquer coisa equivalente a isso que existisse em Cosmos. O espaço era enorme e formado por um círculo perfeito de grama muito bem aparada, mas rodeado por todos os lados, em direção a cidade estavam alguns prédios pequenos e acinzentados fechando meio círculo, a outra metade era fechado por árvores negras e de mesma altura que os prédios tão perfeitamente alinhadas e próximas que era óbvio que haviam sido plantadas daquela forma em vez de terem crescido naturalmente.
No local, esperei em vão por uma demonstração de seus estilos de luta que inundavam minha imaginação, mas muito embora ela, de fato, tenha ocorrido, não foi nada do que eu esperava: de um dos lados do círculo perfeito, aquele onde ficavam as árvores negras, havia uma pequena placa de cristal vermelho, algo que havia me passado despercebido desde que chegamos, sobre as placas haviam diversos “pedregulhos de cristal” coloridos, de modo que Sunwish me pediu para que eu apanhasse o maior que conseguisse; a rocha que trouxe em seguida era enorme, do tamanho de uma bola de basquete, embora muito irregular e transparente; Sunwish perguntou:
– Quanto achais que pesa este cristal em tua medida de quilos Vaniel?
– Acho que – eu a sacudi tentando adivinhar seu peso – uns cinco quilos.
Aquila riu-se e disse:
– Tente uns cinquenta e chegará perto do peso real garoto!
– Está brincando – falei – veja como eu a manuseio sem grande dificuldade, eu não seria capaz de segurá-la tão confortavelmente se fosse tão pesada assim.
Sunwish então falou:
– Quanto mais permaneças por aqui, mais tuas capacidades aumentarão, em contrapartida as de Starwish se reduzirão na mesma proporção, pois teus lugares no mundo estão sendo trocados.
– Vaniel, achas que conseguiria quebrar este cristal?
Não havia a menor possibilidade disso, a pedra parecia ter a resistência de um diamante, e diante disso, Sunwish falou:
– Atire-a contra uma das árvores com tanta força quanto possa.
Voltei até mais próximo a floresta e ergui a pedra bem alto acima de minha cabeça, me sentindo um bobo ao fazê-lo, então a atirei contra o tronco da árvore a minha frente; o impacto mostrou-se violento, de tal forma que a madeira ficou visivelmente marcada, nada fora do normal diga-se de passagem.
– Conseguiu destruir a rocha? – Perguntou Sunwish.
– De modo algum, como conseguiria? – respondi me virando para ele.
– Então agora observe, Snow!
Subitamente a voz de Aquila se fez presente as minhas costas, mas isso não era possível, a garota estava a uma certa distância, ao lado de Sunwish a um segundo, mas no instante seguinte havia se colado atrás de mim e tinha seu pé direito sobre a pedra; fiquei ainda mais surpreso quando seu pé desceu bruscamente através do cristal com tanta facilidade que até parecia uma pequena bola de isopor, a rocha antes rija e pesada havia se reduzido a pedaços e pó!
– Foste negligente – disse Sunwish – quando lhe adverti para te preparares para o que viria, déste ouvidos as vozes a tua volta e te afastou dos treinos pelos anos seguintes, porém, não necessita aprenderes a lutar novamente, afinal já tiveste um professor e se na verdade nada sabes, teu treino fora inútil, neste caso tudo estaria perdido.
– O que necessitas de fato, além de esperar pelo momento certo, é controlar o teu espírito!
– Se eu conseguir isso – perguntei – serei tão poderoso como vocês?
– Serei capaz de caminha vários metros com apenas um passo e destruir rochas?
Sunwish pensou por um segundo antes de responde:
– Não se pode descartar esta possibilidade, porém, mesmo que sejamos um pouco mais fortes que os habitantes de teu mundo, as capacidades que demonstramos aqui apenas foram conseguidas após um milênio de treino, a fim de, nos tornarmos Elites, não acho que com tua noção menor de tempo, conseguirias passar por todo o treino e mesmo que o fizeste, perderias tais habilidades quando retornasse ao teu lugar.
– Então como poderei voltar e encarar Starwish? – perguntei.
– Como eu seria capaz de lutar contra?
– Sei muito bem que ele tem as mesmas habilidades que vocês, afinal de contas, foi o próprio quem me matou!
Em resposta, Aquila disse:
– Não tenha medo Vaniel, como dissemos, da próxima vez vocês dois estarão em situações semelhantes, só o que precisa é compensar a posse de Excalibur, então poderá vencer, todos o ajudaremos, não se preocupe.
– Quanto mais tempo ele permanecer em seu mundo, mais se tornará como um de vocês, até mesmo tendo seu tempo de vida reduzido!
– Mas espere Aquila, se com o passar o tempo eu me torno como vocês, e Starwish como um humano comum, por que então ele desceu ao meu mundo se se tornará inferior ao que era?
Foi Sunwish quem respondeu isto:
– A posse de Excalibur é o que muda tudo, ainda que Starwish em si se torne inferior, a lâmina permanecerá alimentando-o e projetando nele algumas das capacidades de um portador.
– Mas como então – questionei aflito – poderei deter alguém de dispõe de tal arma mesmo que me fortaleça um pouco?
– O primeiro passo é aprender a ouvires Snow – falou ele – treino já tens, agora ensinarei o que precisará!
Mas ele nada me ensinou naquele dia, subitamente pareceu-me que o rapaz sentira o enorme peso da armadura que trajava tão vigorosamente antes, Sunwish se virou e foi com passos pesados e lentos que voltou para casa, ordenando a Aquila que me fizesse treinar o que já conhecia pelo resto do dia naquele lugar. Não mais o vi nos primeiros dias no Mundo Acima das Estrelas, apenas pratiquei a mesma rotina do dia anterior tendo por companhia Aquila, com quem muito conversei.


| NOTA | ICOR – nome dado ao sangue de cor dourada, que percorria as veias dos deuses gregos.

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COMO É O INFERNO?

Falar sobre o inferno simplesmente não deixa de ser um assunto interessante (bem… digo isso na falta de palavras mais “adequadas”…) este não é descrito unicamente na Bíblia Cristã, diversas outras religiões e mitologias ao redor do mundo possuem sua própria “versão” do inferno com particularidades e semelhanças que são notáveis. Contudo, este artigo não se destina a compará-lo nos mais diversos cenários, mas sim compartilhar alguns relatos escolhidos a dedo que são (a meu ver) bastante relevantes e/ou interessantes, portanto merecem, ao menos, serem conhecidos. Pintura portuguesa a óleo sobre madeira, datada entre 1510 e 1520, seu verdadeiro autor é desconhecido, mas teria sido encomendada e guardada no Convento de São Bento da Saúde. Eu recomendaria iniciarmos nossa viagem falando sobre o Inferno de Dante, porém, sobre isso acabei discorrendo num outro projeto aqui do Blog (e não pretendo revisar e “relançar” todo o texto), que basicamente é uma revista virtual sobre animes, games e c