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APÊNDICE 3 – O REINO DE CRISTAL – CAPÍTULO EXTRA 1

São chamados de Soldados de Elite, ou simplesmente, de “Elite”. Fazem parte deste seleto grupo todos aqueles que, graças a alquimia, chegaram a transcender o “nível balístico”; Embora poucos sejam capazes, se comparados a imensa população, ainda assim, são em grande número pelo Mundo.
Os Elite sempre estiveram presentes nas grandes batalhas da humanidade, desde que Gilgamesh trouxe do Oeste a Alquimia, todavia naquele momento ainda não havia distinção entre Soldados de Elite e soldados convencionais, ambos trajavam as mesmas vestes, usavam as mesmas armas e serviam seu rei lado a lado. Só na época de Arthur é que fora oficialmente instituída uma patente especial, apenas para os melhores guerreiros, apenas para a Elite. Desta forma seus serviços eram melhor aproveitados, sendo convocados unicamente quando havia uma real necessidade.
Dentre os manuscritos não publicados de Paracelso, encontramos a Lenda de Lilith, muitas vezes referenciada como sendo à Primeira Elite.
Desde sua descoberta, tem se debatido quanto a veracidade deste documento, já que Merlim realmente não foi o único a relatar fatos do início da Terceira Era, contudo todos os outros historiadores eram contemporâneos a ele (Merlim) e tinham algum tipo de contato com o mesmo, esta é a principal razão para serem igualmente aceitos como fontes confiáveis; Enquanto que Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim viveu em uma época bem mais recente, o que não condiz com certos acontecimentos relatados, que sugerem uma época ainda mais antiga que a do próprio Merlim. Por estas razões Paracelso é largamente desacreditado.


A PRIMEIRA ELITE.

Aos pés das ruínas e escombros do antigo Palácio da Pedra Dourada, em Esnuna, uma pequena cidade próxima a capital, três Soldados do Rei encontraram a bela Lilith. Uma jovem de pele clara e cabelos negros, seu olhar era penetrante e desafiador, ela encarava os soldados mesmo caída ao chão e já quase morta ao lado do corpo de um infante embebido em sangue.
Cativados pela beleza da mulher, os soldados a tomaram da destruição e levaram-na a seu acampamento. Lá, Lilith recebeu cuidados médicos vindo a acordar após três dias.
A jovem relatou sobre a vida simples, ao lado de um garoto órfão que houvera morrido durante o ataque, seu único parente, mesmo que não compartilhassem o mesmo sangue:
Um Dragão Azul se abatera sobre a cidade, porém, a fera não trouxe fogo algum, pois se tratava de um Dragão-Frio, ou seja, um plebeu da raça, ainda assim, sua pele grossa impediu as flechas lançadas em contra ataque de feri-lo; O brilho dos olhos da fera incitava o pânico no coração de quem o encarasse, e dessa forma um único dragão inferior demoliu toda uma cidade.
-Os gritos de sofrimento daqueles que morriam, devorados pelo monstro azul, eram ainda mais potentes que o som de casas desabando.
Disse a linda jovem, inúmeras vezes em agonia, após contar sua história e sua doce voz se mostrou cheia de sofrimento. Descobriu ela que houvera sido encontrada por mero acaso, os soldados não vieram a Esnuna para salvá-la, o que os trouxe fora a perseguição a besta. Da mesma forma ela não foi salva por compaixão, e sim por sorte de seu corpo atraente. Lilith porém, recusou-se a deitar-se sob qualquer um dos homens que a resgataram, e desta disputa uma faca foi sacada; Em meio ao combate Lilith assassinou seu agressor, e fora capaz de fazê-lo graças à “habilidade” que o sentimento de ódio lhe proporcionara naquele momento. Não pôde fugir em seguida, pois foi subjugada pelos números inimigos. Levaram-na a presença do Rei Sangue de Dragão, “poderoso como as Estrelas3”, Gilgamesh. E diante dele, o capitão falou:
-Esta é sanguinária como um demônio quando toca uma lâmina, e recusa-se a dar em tributo seu corpo, a aqueles que lhe tiveram misericórdia.
O rei olhando-a com curiosidade indagou:
-Como te chamas criança?
_Lilith senhor.
-Por quê negaste o pagamento pela ajuda que lhe fora dada?
_Não nego minha gratidão, se não fosse por teus bravos cavaleiros, meu senhor, eu ainda jazeria no chão e certamente minha vida já teria se extinguido.
_Quisera eu morrer e acompanhar meu irmão, o único a quem entreguei minha inocência para distrair-lhe do sofrimento e da dor de uma morte inevitável.
_Meu corpo não pertencerá a mais ninguém!
Sangue de Dragão se espantou com o fogo que vira no interior da jovem, então ordenou que entregassem uma grande espada, e falou o rei:
-Disseste bem criança, palavras porém, de nada valem em face da morte ou do carcere.
-Se queres ser dona não apenas de seu corpo, como também de tua vontade, mostra-me a força de teu desejo, brande esta espada contra mim e liberta-te!
Sem cerimonias, a espada nas mãos de Lilith e do rei agitaram-se velozmente no ar, porém tudo foi demasiado rápido e ninguém era capaz de descrever qual houvera sido o golpe que atirou-a contra o chão, fazendo com que a espada oferecida saltasse de suas mãos.
De joelhos ela prostrou-se vencida e desafiadora, com o olhar em Gilgamesh. O rei ergueu sua espada e olhou-a nos olhos, todos os presentes ali sorriram e alguns até gargalharam ao ver que ela seria punida pela ingratidão. E virando-se o rei com a velocidade deu um dragão alado, decapitou o acusador da jovem, seu capitão, de um só golpe.
-Ninguém em parte alguma pôde se igualar a mim em combate, exceto pelos nobres dos dragões e por Lilith!
Virando-se para a bela, o rei disse:
-Tens uma escolha, retribuir de bom grado por minha misericórdia, já que nada me deves após ter sido tratada desta forma por meus cavaleiros ou ir embora e ter uma vida miserável.
Ela ficou calada, porém, não fora embora e permaneceu ao lado de Gilgamesh desde então. Não se entendia nada, afinal a jovem não fora páreo para o rei e, mesmo assim, obteve mais do que misericórdia. O rei vira seu potencial futuro e pensou ser uma pena apagá-la da história tão rápido, ela deveria ser conhecida por todo o mundo. Após ser oficializada como uma de seus soldados, a primeira ordem do rei para Lilith, foi que executasse toda a unidade que a houvera salvo de seu infortúnio apenas por um pagamento vulgar, e não é exagero dizer, que ela o fez com grande prazer.
Gilgamesh vestiu-a com uma bela armadura prateada e entregou da sua própria mão uma espada e um cetro que seriam um símbolo de sua autoridade como regente dos homens.
Como um arauto de Gilgamesh, Lilith agora era temida, admirada e desejada pelos homens, sendo nomeada pelo próprio como, Demônio da Lua, pois sempre preferia atacar sob a Lua cheia.
Anos de ataques constantes aos Dragões não ficariam sem retaliação e notícias vieram de um poderoso grupo de Dragões-Serpentes que adentrou a costa Norte. E ao longo das margens do oceano subiram para o Sul causando grande destruição e devorando o povo. Lilith se ofereceu para caçar as feras dizendo de joelhos aos pés de Gilgamesh:
-Meu rei, me deste um mundo quando eu não tinha nada, quando meu pensamento era ainda destrutivo, agora permita-me proteger e zelar por vosso reino não importando o sacrifício que me seja solicitado.
Respondeu ele:
-Parta com a minha benção Elite da Guarda!
Com um grande destacamento, o Demônio da Lua seguiu o rastro de destruição da serpente por vários dias, até que numa tarde pouco antes do pôr do Sol, avistaram-na e era tão grande como jamais havia sido vista antes. Rastejava sobre seu ventre em meio a uma área rochosa próxima ao mar. Sem perda de tempo atacaram-na; E antes que suas espadas conseguisse a alcançar, surgiram da terra, e de todos os lados, um grande número de Dragões menores que vieram em auxílio a aquele nobre. O combate por parte dos homens contra os dragões era duro e equilibrado, exceto por Lilith, que decapitava facilmente todas as serpentes que lhe atacavam; Fitando-a com interesse o Dragão maior se dirigiu a ela e as serpentes a sua volta abriram caminho permitindo a passagem, e este falou com voz humana, porém como um assopro sombrio:
-Quem es tu bela guerreira?
_O arauto do rei Gilgamesh, aquela que lhe punirá por sua gula para com os homens, sou um Demônio sob a Lua!
Exclamou Lilith, riu-se a grande serpente e retrucou:
-És um simples instrumento nas mãos do ladrão de nossa Alquimia, ele, com certeza, não liga pra ti ou para estes homens, tudo o que quer é manter seu poder e majestade roubados!
Ofendida com as palavras da serpente que dançava a sua frente, a guerreira apertou firmemente as mãos em sua espada e partiu em direção do monstro ameaçadoramente, antes de atingi-la, a serpente lhe disse novamente:
-És bela como o crepúsculo que em sua fúria combate a luz.
-Teu rei não deste a ti nada mais do que uma morte em minhas mãos.
-Eu porém, dou-lhe a vida, pouparei o que resta de teus homens e deixarei os usurpadores com o que pilharam se vieres comigo.
-O que dizes mulher, aceita-me ao teu lado?
Lilith não era chamada de demônio por acaso, de um salto, investiu contra a enorme criatura e cravou a espada em seu ventre macio, entretanto, o golpe não fora fundo o suficiente para arrancar mais que um olhar de desejo da fera, este não era um Dragão comum como os outros que o acompanhavam, era um nobre, das linhagens mais antigas e traiçoeiras do Oeste; E impondo os dentes contra a espada de Lilith arrancou-a de seu punho e a despedaçou, arremessando a guerreira contra as pedras.
Enquanto estivera inconsciente o nobre matou e devorou os soldados que a acompanhavam, restando apenas a garota, a quem esperou pacientemente que acordasse de seu desmaio para lhe propor uma vez mais:
-Case-se comigo, és a mais bela em que já pus os olhos, mesmo sendo da mais baixa das raças.
Lilith olhou a redor e contemplou o sangue e vísceras de seus companheiros, erguendo-se com o cetro do rei, golpeou inutilmente o monstro, e mesmo que ele resistisse aos dentes mortais da cobra, nem sua poderosa espada havia penetrado de maneira significativa a pele da criatura, o que se faria então com aquilo que não era uma arma?
Começou a correr tanto quanto pôde, com a cobra em seu encalço, deve ter corrido por horas, até que finalmente perdeu-a de vista, e Lilith escondeu-se entre as pedras, sentando-se para descansar da penosa fuga. Ouviu então um som rastejante abaixo do solo, e uma voz ecoante que disse:
-Sinto teu cheiro, não fugirás de mim, a única coisa que pode fazer é vires comigo.
Preparada para morrer ela gritou:
-Por quê eu aceitaria teu pedido, criatura da morte?
_Morte tu dizes?
_Não lhe parece que teu rei tem uma vida-longa demais?
Lilith ficou pensativa, enquanto o Dragão usou de sua lábia para convencê-la:
-Por que achas que ele é chamado de Sangue de Dragão?
-Pense, Gilgamesh tem estado no trono a gerações demais!
-Posso dar-te também aquilo que o ladrão já tem, ofereço-lhe a vida dos dragões.
-Ofereço-lhe a capacidade de passares tal vida adiante e isto não é uma má proposta.
-Por seu lado, teu rei ofereceu-lhe morte em minhas mãos!
Lembrou-se por influência do olhar da serpente, da ofensa cometida por seus salvadores anos atrás, e atribuiu-a também ao rei, pensando que este não teria chance se encarasse este nobre a sua frente. Porém, não era o rei e sim Lilith que encarava a morte agora; E desejando viver, as palavras da serpente desceram ao seu coração com o mesmo peso que a sombra da noite caía, contudo, em seu último ato humano, propôs:
-Se eu aceitar, abandonaria o reino dos homens sem afligi-lo mais?
Do destino de Lilith não se teve mais notícia, alguns dizem que fora devorada pelo monstro e assim teria saciado sua fome e ido embora. Outros dizem que no local da batalha foram encontradas as vestes e o cetro de prata de Lilith, bem como grandes chumaços de seu cabelo negro ao lado de uma grande pele da imortal serpente, com certeza havia fugido com o verdadeiro demônio e se tornado um deles, enganada teria repudiado aos homens.

Bíblioteca Eratóstenes – Texto Número 1030.


| NOTA 1 | PARACELSO – Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493 a 1541), foi médico, astrólogo e alquimista entre outras coisas. Autor de dois livros chamados: “A Chave da Alquimia” e “As Plantas Magicas”.

| NOTA 2 | ESNUNA – Cidade da antiga Mesopotâmia, foi encontrada e explorada (como sítio arqueológico) em 1930.

| NOTA 3 | PODEROSO COMO AS ESTRELAS – Gilgamesh é citado desta forma durante a Epopéia.

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